Tanto se cantou de madrugada,
Tanta esperança gritada
Tanta voz sem alento
(E as almas cheias dele)!
– Foi tudo poeira ao vento
Se já não acreditamos.
E tantos que louvaram essa hora
E a não quiseram!
E tantos, ainda agora,
Sem esperança esperam!
Ando louco de amor por um país
Que não existe.
Ó vós que o construís
Por que o não construístes?…
Mas o amor é inútil se é tão leve
Que seja só uma amizade casta
Que não fecunde a terra a quem serve.
Amar assim não basta…
Ah! se eu tivesse uma pena
Que fosse uma espada
De convencimento,
Essa pátria seria serena
Seria gerada
Já neste momento.
E um dia.
Muito em breve,
Nasceria.
Porque esta nação que somos
Espera a pátria a haver
Dessa semente em que pomos
A razão de ela nascer.
(Como isto soa a falsa alegoria
Do que se teme fazer, mas que se deve…)
Que seja em breve o dia.
E seja breve.
Daniel de Sá,
Maia [S. Miguel], Em nome do povo. Amem. Anti-poemas e outras palavras, 1979.
Daniel Augusto Raposo de Sá (1944-2013), professor, escritor, político, natural da freguesia da Maia, ilha de S. Miguel onde residiu, trabalhou e morreu.