“ Dez Bons Conselhos de Meu Pai”
o livro infantil de João Ubaldo Ribeiro
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro ocupa a cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis, desde 1993. Não sei, se o escritor costuma freqüentar o Chá da Academia. Desconfio que não… Mas, o que eu não dava para ficar com uma chávena de chá, esfriando entre as mãos, enquanto o escritor ia desfiando histórias que ele sabe tão bem contar lá da sua Itaparica, saídas de um gostoso boteco do Leblon ou das suas muitas andanças por terras de Portugal onde tem tantos amigos como José Carlos de Vasconcelos, diretor do JL – Jornal de Letras,Artes e Ideias,de Lisboa. Aliás, em 1981, graças a uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian, muda-se com a família para Lisboa e, enquanto aí viveu,edita a revista Careta com o jornalista Tarso de Castro.
A formação literária de João Ubaldo é anterior a tudo isso, começou nos tempos de estudante. Foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa. Aos 21 anos de idade, escreveu seu primeiro livro, Setembro não Tem Sentido, que ele desejava batizar como A Semana da Pátria, contra a opinião do editor. O segundo foi Sargento Getúlio, de 1971. Em 1974, publicou Vencecavalo e o Outro Povo, que por sua vontade se chamaria A Guerra dos Paranaguás.
Escritor consagrado como um marco do moderno romance brasileiro, a seu respeito pronunciaram-se personalidades da crítica literária internacional e seu nome é constante referência nas mais conceituadas colunas literárias de todos os grandes jornais e revistas. Basta citar, à guisa de ilustração, que em 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo o mundo para dar depoimento ao jornal francês Libération, sobre o terceiro milênio. E sua obra Viva o Povo Brasileiro(1983) foi tema de um concurso nacional realizado na França do exame de Agrégation. Viva o Povo Brasileiro que tem por palco a Ilha de Itaparica (Bahia) e percorre quatro séculos da história do país e Sargento Getúlio (1971) constaram da maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século XX.
A 26 de julho de 2008, o escritor João Ubaldo Ribeiro, merecidamente, foi distinguido com o Prêmio Camões 2008, o mais importante galardão concedido a autores de língua portuguesa, instituído em 1988 pelos governos de Portugal e Brasil. Foi o oitavo escritor brasileiro a receber o relevante Prêmio. Por ocasião da outorga da honraria assim se expressou: “É bom saber que, enquanto escritor da língua portuguesa, pude cumprir, pelo menos no ver de meus contemporâneos, a minha obrigação com seriedade, denodo e amor, porque é desta língua que vivo e nada mais me enaltece do que imaginar que esta língua me agradece.”
Pois, João Ubaldo Ribeiro, um dos escritores mais importantes do Brasil, verdadeiro ícone da literatura contemporânea surpreende, agradavelmente, seus leitores com o delicioso “ Dez Bons Conselhos de Meu Pai”, ilustrações de Bruna Assis Brasil, que acaba de ser lançado pela editora Objetiva.
Se alguém imagina que se trata de um livro de contos infantis,estórias, fábulas ou aventuras por terras baianas narradas por seu pai num rito da oralidade tradicional está muitíssimo enganado. Nada está mais longe do tema que inspira este pequeno livro de cinquenta e seis páginas: são conselhos, sabedoria, valores, mundividências reunidos e repassados por seu pai e que o autor compartilha.
“Dez Bons Conselhos de Meu Pai”,em forma de decálogo, apresenta conselhos dados pelo pai do escritor,Manuel Ribeiro, homem de princípios rigorosos, austero. Exigente,cobrava atitudes, estudo, saberes. Queria resultados excelentes, a melhor nota, o sucesso escolar. Não tinha paciência,não admitia fracassos. Muitas vezes impunha tarefas impensáveis como decorar versos e versos, copiar os sermões de António Vieira ou verbetes no dicionário quando o filho não sabia o significado de uma palavra. Esta era a sua forma de educar , de passar ensinamentos, de emanar sabedoria.
Apesar da severidade paterna, os conselhos foram fundamentais para a formação de João Ubaldo que, sempre preservou, respeitou, reproduziu ao longo de sua vida, fazendo parte de seu cotidiano e norteando o seu trabalho tal qual uma “rosa dos ventos”.
Mas que conselhos são estes?
São palavras e valores de um pai que quer educar seu filho dentro dos princípios que acata e considera eticamente fundamentais como a liberdade, a igualdade de direitos e deveres, a dignidade humana.
“A obra apresenta em sentenças curtas, mas essenciais, o resumo das diretrizes de vida mais importantes passadas por seu pai. Coisas como: “não seja burro”, “não seja amargo” e “nunca seja medroso” são apenas alguns deles”.
Também,o leitor vai encontrar no livro infantil de João Ubaldo conselhos sobre a importância da leitura e de aprender sempre mais. Seu pai era um homem culto,estudioso, atencioso, exemplo e inspiração para o filho. Ao lado da mulher, Maria Felipa Osório Pimentel, construiu uma grande biblioteca, os livros estavam por toda parte da casa, pelas paredes e contemplava todas as áreas de conhecimento que se pode imaginar.
João Ubaldo, o filho mais velho do casal, inserido nesse ambiente, descobriu que estavam nos livros os seus sonhos e por eles seria o seu caminho. Sem que ninguém mandasse, o João menino vivia mergulhado nas histórias como nas obras de Monteiro Lobato. “Eu era leitor fanático dos livros dele. Para mim ele não era nem gente, era atemporal, não podia morrer”,disse em recente entrevista o escritor baiano.
João aprendeu com o pai Manuel Ribeiro a amar os livros, a importância do estudo, o gosto pelo querer conhecer e saber e, isso, foi foi fundamental para a formação de um dos mais importantes autores da literatura brasileira. E nós,seus leitores, aprendemos com o João Ubaldo Ribeiro que seu texto não foi escrito somente para crianças e sim serve a toda uma geração que, penetrando nos meandros de Dez Bons Conselhos de Meu pai, encontrará refletida a sua história de vida traduzida em conselhos e ensinamentos, heranças de seus pais – valores sociais e culturais, essenciais que dignificam a sociedade brasileira.
Florianópolis,9 de Abril de 2011
Ilha de Santa Catarina
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Nota: o texto acima divulga a obra “Dez Bons Conselhos de Meu Pai” e tem por fundamento a nota de Saída da Editora Objetiva.