Em Diálogos Impossíveis, Luis Fernando Verissimo se mostra afiado como nunca na sua fina ironia e humor delicioso. Depois de encantar o País e o mundo afora com as incríveis personagens do Analista de Bagé,criar Ed Mort e a “doce” Velhinha de Taubaté reúne no novo livro uma série de diálogos que considera “possíveis” mexendo com o nosso imaginário com as nossas referências, criando encontros improváveis, com certeza.Ou nem tanto…como Don Juan num papo mole com a Morte, Drácula e Batman discutindo quem é morcego do bem e quem é o morcego do mal.
É um livro é recheado de mal-entendidos entre os personagens das crônicas. E são essas confusões e impossibilidades de comunicação que provocam o humor dos textos. Um humor inteligente,instigante,capaz de provocar reflexões quase filosóficas. Drácula até tem razão, por exemplo, ao rebater Batman com o seguinte argumento: “O Morcego Bom passa, o Morcego Mau fica. Um não quer morrer e morre, o outro quer morrer e não morre. Ou talvez não seja uma ironia, seja uma metáfora para o mundo. O Bem acaba sem recompensa e o único castigo do Mal é nunca acabar”.
Impossível ou absurdo que marca a existência humana,cabe ao leitor julgar. Mas aí está, Luís Fernando Veríssimo,cronista existencialista com grande senso de humor,pícaro a brincar com o imaginário, a intisicar com sua incrível capacidade de fabulação, criando diálogos e outras narrativas que aproximam sempre com riso o cotidiano das personagens, como o caso de uma dona de casa que pede conselhos ao seu ursinho ou um casal que se desentende na hora de dormir.
Ou ainda…
Drácula e Batman discutem no asilo. Robespierre tenta subornar o carrasco. Goya e Picasso conversam sob o sol da Côte d’Azur. Juvenal planeja matar a mulher, Marinei, que o despreza. Tais constatações podem ser verificadas em seu novo livro, Diálogos Impossíveis, onde o impagável Luís Fernando Verissimo está sempre por perto, registrando os hilariantes momentos em que o ser humano exerce sua vocação para a confusão:
– Não somos muito diferentes – diz Drácula.
– Somos completamente diferentes! – rebate Batman. – Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos.
– E no entanto – volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos de fantasia – somos, os dois, homens-morcegos…
Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde.
– A diferença é que eu escolhi o morcego como modelo. Foi uma decisão artística, estética, autônoma.
– E estranha – diz Drácula. – Por que morcego? Eu tenho a desculpa de que não foi uma escolha, foi uma danação genética. Mas você?
Nas crônicas reunidas neste volume, Luis Fernando Verissimo escreve sobre impossibilidade, incomunicabilidade e mal-entendidos. Escreve, enfim, sobre a vida.
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Fonte de Referência: Divulgação da Editora Objetiva:http://www.objetiva.com.br/livro_ficha.php?id=1185
Crédito foto de LFVeríssimo: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press Brasil,Belo Horizonte (MG)