(Jacob Camille Pissarro, 1830 – 1903)
Tarde cinzenta e fria
De invernia
Com o vento assobiando
E dobrando
O corpo enregelado
E enrugado!
São as tardes molhadas
Alagadas…
O nevoeiro que cobre
E que encobre
Envolvendo em seu manto
O meu pranto…
São essas tardes horrendas
E tremendas
Em que a alma arrefece
E padece
E o amargo da saudade
Nos invade!…
São as tardes friorentas,
Pardacentas,
Que amachucam nosso Eu
Que morreu:
– Coração meio morto,
Sem conforto…
Tardes do fim do mundo,
Mar sem fundo
De imensa solidão…
Tardes negras sem beleza,
De tristeza
Que corta o coração!
É isto a invernia:
– Rebeldia
Ou tempo de apatia!…
De nuvens em farrapos
Como trapos
E os nervos em frangalhos
Como galhos
Sem folhas e quebrados,
Violentados!…
Dinis Decq Motta, Relicário Íntimo IV,
Instituto Cultural, Ponta Delgada, 1991.