O fórum promovido pela Associação de Professores de Português dos Estados Unidos da América e Canadá (APPEUC) entre os dias 12 e 14 de Novembro, em Washington DC.,teve como tema o
“O Ensino da Língua Portuguesa na América do Norte: Desafios e Prospectivas Para o Século XXI”
Estiveram em debate temas como o ensino do Português como língua estrangeira e língua não materna, bem como o ensino da língua perspectivado para o século XXI ou o balanço do que até agora tem sido feito neste campo. O evento destina-se essencialmente a professores, directores escolares, líderes comunitários ligados ao ensino e à cultura-
Foram apresentadas sessões como:” Utilizando a expressão teatral para o ensino da língua e cultura portuguesas”, por Álamo Oliveira, escritor e poeta terceirense, “Transmitindo língua e cultura através da poesia”, por Vasco Pereira da Costa, escritor também da ilha Terceira ou “Como se faz uma trilingue”, pelo micaelense Onésimo Teotónio Almeida,escritor e professor da Universidade de Brown, em Rhode Island.
Diniz Borges, presidente da APPEUC falou sobre a finalidade do Fórum e sua programação,lembrando: “o factor emotivo, a ligação aos avós ou aos antepassados, o orgulho de ser de origem açoriana, todos são factores importantes e decisivos que levam muitos jovens à aprendizagem da língua portuguesa”. (…)
Sobre a Entrevista:
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Na apresentação do fórum pode ler-se “Eu falo Português para aprender outra língua e para comunicar com os meus avós”. Sente que esta é uma mensagem que as crianças e os jovens familiares de portugueses e açorianos em particular passam junto da sua comunidade?
Acho que sim. Sou professor no ensino secundário e superior nos EUA, mais concretamente na Califórnia, onde a emigração dos Açores é, como se sabe, secular. Muitos dos alunos de origem portuguesa nas minhas aulas de principiantes, direi mesmo mais de 50%, não falam português, e sendo de origem portuguesa, querem aprender a língua dos seus avós, e alguns dos seus bisavós. Acontece que muitos os pais já não falam português e aprendem a língua não só porque têm que tirar uma língua estrangeira, mas acima de tudo por terem laços familiares à língua. O factor emotivo, a ligação aos avós ou aos antepassados, o orgulho de ser de origem açoriana, todos são factores importantes e decisivos que levam muitos jovens à aprendizagem da língua portuguesa. Daí, que é imperativo que onde há uma comunidade deve haver uma escola que ensine a língua portuguesa.
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Quais são, no seu entender, os desafios e as prospectivas do ensino da língua portuguesa na América do Norte para o século XXI?
Na minha perspectiva os desafios passam por uma mudança nas escolas privadas das nossas instituições que terão que passar a “heritage schools”- escolas da herança portuguesa. Isto significa que terão de modificar-se e estarem cada vez mais abertas às novas gerações. Há que profissionalizar os professores destas escolas. Há que prepará-los para ensinarem português como língua estrangeira, como segunda língua e não como língua materna. É que cada vez são menos os alunos que chegam a estas escolas com qualquer conhecimento da língua portuguesa. As escolas do nosso movimento associativo terão que mudar. Terão que acompanhar a metamorfose da própria comunidade.
No ensino oficial americano há que fazer-se um esforço para aumentar o número de escolas secundárias com cursos de língua e cultura portuguesas. Em cada comunidade há que criar-se um grupo de trabalho que comece a movimentar líderes comunitários, educadores de origem portuguesa e líderes políticos de origem lusa para que em conjunto possamos pressionar as entidades do ensino público americano para a inclusão de português nos departamentos de línguas mundiais. É crucial que o ensino da língua portuguesa esteja nos currículos do ensino oficial americano e canadiano.
No que concerne a prospectivas penso que estamos mais uma vez numa encruzilhada, que poderá ser a última grande oportunidade para uma maior presença de cursos de língua e cultura portuguesas nas instituições do ensino oficial norte-americano, quer dos EUA, quer do Canadá. Já perdemos muito terreno. A nossa eterna desorganização nesta matéria fez com que não tivéssemos preparado uma nova geração de professores de português. Porém, há uma renascença na procura do português como segunda língua, quer pelas segundas, quer pelas terceiras e sucessivas gerações. Quem sabe se esta é a última oportunidade? Daí que as prospectivas são oas, mas temos que nos entender, organizar e trabalhar.
Nota um crescimento ou um decréscimo do interesse no gosto da aprendizagem da língua portuguesa na comunidade luso-descendente norte americana? Se um crescimento, derivado do quê? Se um decréscimo, porquê?
Temos um crescimento. Esse acréscimo deve-se à redescoberta das raízes. Os jovens luso descendentes têm muito orgulho nas suas raízes portuguesas, e um orgulho redobrado em serem descendentes de emigrantes dos Açores. Todos os meus alunos luso-descendentes têm um fascínio muito especial pelas ilhas dos seus antepassados, falam delas com muita ternura e para muitos o seu desejo é conhecê-las. Esta efervescência não é nova. Em tempos idos, como referi, não a soubemos aproveitar. Espero que desta vez tenhamos outra visão. Há um crescimento pela parte dos jovens luso-descendentes e pela parte de jovens de outras etnias que olham para a nossa língua como uma língua global que vale a pena aprender.
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Hoje, como considera ser o ensino do Português nos EUA? Melhor ou pior do que acontecia anteriormente? O que é necessário ser alterado em seu entender?
Acho que está melhor. Acho que na última década tem havido uma maior abertura e disponibilidade das entidades do ensino, particularmente nos EUA. Mas há muito a fazer. Ensinar português nos EUA e Canadá será sempre um trabalho árduo. Há que ser criativo, captar os alunos e sensibilizar os pais. Depois quem está no ensino nas escolas públicas americanas e canadianas não só dá língua e cultura, não é apenas um transmissor da matéria, tem que ser mentor, tem que incentivar os nossos jovens a acabarem o ensino secundário e a ingressarem numa universidade. Tem que ser agente cultural, ou seja: à margem das aulas tem que estabelecer uma ponte com a comunidade e trazer a comunidade à escola e levar a escola à comunidade. Tem que agitar as vivências culturais da sua comunidade para que as mesmas acabem por ir além da cultura popular.
Como está a ser feita a introdução do novo acordo ortográfico junto dos nossos luso-descendentes?
Ainda não há um trabalho sério e coordenado entre as várias escolas e os vários cursos nessa matéria. Porém há muito que se tem falado, nos cursos de língua e cultura sobre as diferenças, agora semelhanças, entre o português de Portugal e do Brasil. Acho que em breve será introduzido duma forma normal. Não haverá problemas com os alunos, os dilemas serão com alguns dos professores.
Que importância considera ter o Português hoje junto desta mesma comunidade?
Os nossos jovens luso-americanos poderão não ser, ou ficarem a ser depois de dois ou três anos de aulas, proficientes na língua portuguesa, porém ficarão expostos à língua dos seus antepassados, conhecerão a sua cultura e isso é importante para eles. Ainda há (por quanto tempo mais não sei) um grande desejo em aprender algum português.
Quais são as suas expectativas para este fórum?
As minhas expectativas como presidente da APPEUC/NAPTA é promover um debate sério, aberto e revelador sobre o ensino da língua e cultura portuguesas nos EUA e Canadá. Desejo que cada professor partic
ipante leve consigo conhecimentos e técnicas que o ajude nas suas aulas, que o prepare para ser cada vez melhor. Espero que o debate seja o princípio de uma caminhada nova para a APPEUC/NAPTA no sentido de estar cada vez mais junto das comunidades e trabalhar, estreitamente, com as coordenações e os governantes em Portugal e nos EUA e Canadá para que haja mais oportunidades para se ensinar a nossa língua e a nossa cultura. Estou convicto que muito se pode fazer nesta longa jornada e gostava que a Associação de Professores pudesse dar o seu contributo. Gostaria, muito mesmo, que saíssemos de Washington mais motivados e mais capacitados que o futuro do ensino da língua portuguesa nos Estados Unidos da América e Canadá está nas mãos de cada comunidade.
Ana Coelho