Cronista da América, professor, "gentleman", atento observador das andanças de seu povo português emigrado e da vida nas comunidades da diáspora, estas foram algumas das considerações feitas ao ser apresentada por Walter Fernando Piazza e Onésimo T.Almeida ao Prof.Doutor Eduardo Mayone Dias, em novembro de 1995, durante o 4º Congresso das Comunidades Açorianas realizado na cidade da Horta,Açores.
Pouco conhecia de sua obra, mas o suficiente para saber que estava diante de uma das figuras mais respeitadas e admiradas no mundo das letras da diáspora portuguesa, do eminente professor, do investigador profundo da vida societária dos emigrantes portugueses na Califórnia. "Historiou como ninguém a presença dos açorianos na Califórnia", afirmou Onésimo T. Almeida.
Naquele Congresso, Mayone Dias discorreu sobre os "Picoenses em San Diego",( meados do século XIX até a década de 90, do século passado). Uma verdadeira aula de história e de sociologia política sobre as relações de trabalho, interações sociais e culturais daquela comunidade de emigrados açorianos. Suas lutas e vitórias. Seu desvanecimento com as mudanças sociais e culturais inexoráveis. Sua grande contribuição no desenvolvimento da cidade de San Diego.
Não mais tive o prazer de encontrá-lo. Ficou na memória o registro da sua sabedoria e simplicidade, das conversas compridas, da simpatia, da elegância e da serenidade de um incrível olhar azul. Reencontrei-o na sua obra espalhada em várias publicações como "Crónica das Américas"(1981);"Novas Crónicas das Américas" (1987) e "Miscelânia L(USA)landesa(1997).Ou mesmo referenciado ou entrevistado por outros autores que comungam as mesmas preocupações e anseios e que também um dia buscaram o sonho americano,na outra margem do Atlântico. Cito como referência Diniz Borges no seu artigo "Vozes do Povo A comunicação-social de língua portuguesa no estado da Califórnia-Uma possível Leitura"(www.comunidadesacorianas.com); Onésimo T.Almeida em: L(USA)lândia:A Décima Ilha(1987),Francisco Cota Fagundes(org./prefácio) em"Ecos de uma Viagem: Em honra de Eduardo Mayone Dias"(1999) e Vamberto Freitas em: Jornal da Emigração:L(USA)lândia Reinventada (1990),Jornal da Emigração II: Pátria ao Longe(1992) e no Prefácio da obra Miscelânia L(USA)landesa"(1997), cuja sua parte conclusiva comprova a importância da obra de Eduardo Mayone Dias:"(…) aí está para lembrar e ensinar levemente a quem o queira que de um Portugal geograficamente reduzido saiu um povo heterogéneo e deveras interessantíssimo quando colocado nos mais longínquos e estranhos cantos do mundo. Traz-vos, é certo, apenas uma pequena parcela do mundo lusíada e uma que nunca teve lugar na História ‘oficial’ da Nação. Mas os factos e a reavaliação da nossa realidade nacional vão-se impondo com esforços como este. É que os acima de três milhões de Portugueses diaspóricos, de que os da Califórnia orgulhosamente fazem parte, não poderão permanecer para sempre simples e ocasional apêndice da retórica nacional".
Crônicas sociais escritas com o devido distanciamento com a finalidade de dar a conhecer uma realidade. Uma peça jornalística. Uma escrita magnífica de grande qualidade literária onde o sentir se expressa na agudeza de espírito, na perspicácia, na sutileza de levar o leitor a pensar ou transformando-o em cúmplice de seu olhar. Seja uma crônica que fale de suas vivências no Mexico, que retrate a vida do povo latino-americano duramente marcado em sua realidade pela marginalidade social que oprime o homem ou que destaque à produção literária e a cultura hispânica e até mesmo a brasileira.
As crônicas publicadas no século XXI, o tempo do agora, mantém a mesma atenção e preocupação com os rumos da presença lusa na Califórnia e o fortalecimento da sua identidade. Uma emigração que acompanha a marcha do tempo desde os pioneiros,aqueles que com perseverança abriram os caminhos em terreno abrupto. Agora fala do futuro das gerações e o sentimento de pertença à terra de seus pais e avós ou a terra de acolhimento,a América enquanto grupo coeso e representativo,consciente dos seus direitos e deveres..Defende a unidade,o coletivo, o NÓS e não uma soma de EUS. Aqui cabe muito bem as palavras de Diniz Borges: " Há sim que defender o que é nosso e o direito da existência de tudo que criámos, há ainda que pensar na metamorfose que as comunidades da Califórnia têm sido sujeitas. Há que reflectir no envelhecimento das nossas comunidades e com elas o desaparecimento do gosto pelas coisas de um passado que aos jovens lhes diz pouco. É que embora os emigrantes nunca sejam totalmente americanos, ficam/ficamos sim cada vez menos portugueses e os seus/nossos descendentes nunca serão tão portugueses como os pais ou os avós."
Suas crônicas continuam "papo cabeça",abertas, frontais, ricas na informação, cheia de astúcia,e de admirável humor contando histórias e mostrando os processos de mudanças sociais e culturais por que passam as comunidades portuguesas na Califórnia do século XXI. Hoje, chegam em tempo real, na modernidade da comunicação virtual em "sites" ou pelo correio eletrônico,numa gostosa e prazerosa troca de e-mails, brindando-me com suas histórias ou satisfazendo a minha curiosidade sobre a Grande Los Angeles com seus 12 milhões de habitantes. E é de Los Angeles que o incomparável cronista trava um diálogo plural sobre a realidade da Lusalândia que construiu o "seu universo" consciente das metamorfoses do seu caminhar.
Dados Biobliográficos do autor:
Eduardo Mayone Dias nasceu em Lisboa. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras de Lisboa. Doutorou-se em Literatura Hispânica pela University of Southern Califórnia, Los Angeles (USC). Desenvolve a vida acadêmica em diferentes instituições e países. Começando na Universidade de Cambridge, Inglaterra, como Leitor de Português. Segue para o México onde foi Professor na Universidade Militar Latino-Americana e no Instituto Anglo-Mexicano. Em 1961chega nos Estados Unidos, sendo Professor assistente de Português no Defense Language Institute de Monterey, Califórnia e desde 1964 foi Professor da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) até se reformar. Sua vida não girou em função da vida acadêmica. No ensino e na investigação Mayone Dias foi inovador. Numa aracnídea teia envolveu a universidade e as comunidades portuguesas.
Produção Literária: Menéndez Pelayo e a Literatura Portuguesa, Coimbra, 1975;Portugal: Língua e Cultura, (co-autor), Los Angeles, 1978;Crónicas das Américas, Lisboa, 1981;Cantares de Além-Mar, Coimbra, 1982;Açorianos na Califórnia, Angra do Heroísmo, 1982;Coisas da Lusalândia, Lisboa, 1983;100 Anos de Poesia Portuguesa na Califórnia, (co-autor), Porto, 1986;Novas Crónicas das Américas, Cacilhas, 1986;Falares Emigreses, Lisboa, 1990;Brasil: Língua e Cultura, (co-autor), Newark, Delaware, 1992;Crónicas da Diáspora, Lisboa, 1992;Escritas de Além-Atlântico, Lisboa, 1993;Portugal: Língua e Cultura, nova versão, (co-autor), Newark, Delaware, 1995;O Meu Portugal Antigo e Distante, Rumford, RI, 1997;Miscelânea LU.S.A.landesa, Lisboa, 1997; Portugueses no Vietnan, 2000 co-autor).Presente em inúmeras publicações e possui várias centenas de artigos e crónicas sobre vários aspectos das literaturas e culturas hispânicas. Colabora em inúmeros jornais e revistas do Pís e do exterior,especialmente da Comunidade Portuguesa como os jornais Tribune Portuguese, (Califórnia) Portuguese Times (New Bedford), e a Revista ComunidasUSA.
Prêmios: Por sua sua obra e importante divulgação da língua e cultura portuguesa recebeu o grau de Comendador e Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e a Medalha de valor e Mérito das Secretaria de Estado da Emigração, do governo de Portugal. Nos Estados Unidos foi alvo de várias homenagens e condecorações. No Brasil,é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina..