Elas é que mandam
O homem lutou, cresceu, inventou o Ford e a Coca-Cola, criou a espaçonave, conquistou o cosmos e fez prosperar a inteligência humana. Enquanto isso, sempre na caverna que a sociedade chamou de “lar”, a mulher esperou, passivamente, a volta do caçador…
Está claro que isso aconteceu no tempo em que os bichos falavam. O resgate dos direitos da mulher já se fez até em sociedades pouco lapidadas, como a brasileira. Em 1931, no Recife, estabeleceu-se uma “Cruzada Feminista Brasileira”, que tinha como principal estandarte o “direito ao voto feminino”, o que acontecera nos EUA apenas oito anos antes.
Já existia no Rio de 1922 uma Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidida pela “nossa” Betty Friedan, que se chamou Berta Lutz.
Em 1932, quando se marcaram as eleições para a Assembléia Constituinte, a velha aspiração do feminismo brasileiro tornou-se realidade: as mulheres puderam votar. Um Estado, o Rio Grande do Norte, se antecipara ao “modernismo” do sul e admitiu não apenas o voto, mas a candidatura da primeira mulher “prefeita” da América Latina: Alzira Soriano – quem sabe uma avó daquele machão, o Waldick Soriano…
Já não se satisfazem com tão pouco as mulheres de hoje em dia, bem diferentes das de Atenas. Irreconhecíveis, se comparadas aquela Amélia, de Ataulfo e Mário Lago.
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Já não lhes basta o reconhecimento político de que foram beneficiárias, com o acesso ao voto na maioria dos países. Já não se satisfazem com sua ascensão intelectual e com o pleno reconhecimento da igualdade dos sexos, dos salários e do mercado de trabalho.
Já não lhes basta ser a fonte de toda a beleza produzida ou inspirada pela arte e pela doçura de seu próprio ser, sempre tão persuasivo, protagonista da maior de todas as revoluções – a dos quadris…
Já não lhes adoça o ego terem sido modelos de gênios como Da Vinci e Goya, na “Gioconda” e na “Maja Desnuda” , tornando-se sinônimo de “beleza” em toda a face da Terra.
As mulheres mandam no Mundo, da forma que elas mais gostam: mandando nos homens…
Peço “sociedade” naquele belo verso do poetinha Vinicius:
“Elas são feras que não perdem a graça de ave, e que reinam definitivamente, como a coisa mais bela e mais perfeita de toda a Criação”….
Aliás, achava-se que a mulher era a melhor invenção do Homem, mas era um equívoco.
Deus é Mulher. Sabe-se agora que caiu o véu do armário celestial.
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Sérgio da Costa Ramos – Ilhéu sa Ilha de Santa Catarina, Sérgio é escritorjornalista e um dos mais importantes cronistas catarinenses. Assina a coluna de crônicas no Diário Catarinense. Membro da Academia Catarinense de Letras.