ENTREM NESTA RODA
Mário Pereira
Cronistas em dueto. Uma boa ideia e uma feliz combinação. Se os cronistas em contraponto forem Flávio José Cardozo e Jair Francisco Hamms, que soem as trombetas, pois aí vem coisa boa, de primeira. Recomendo ao leitor que mergulhe logo na leitura das crônicas de um e outro.
No terreiro deste Batuque bem temperado, a roda não se abre para os atabaques e as umbigadas, mas para que dois dos melhores escritores catarinenses do nosso tempo mostrem-nos como se dança o “minueto no meio de uma batalha”, conhecida metáfora usada por Machado de Assis, certa feita, para definir a crônica.
Flávio e Jair são mestres consumados nesta escrita ligeira e esperta, que parece um bate-papo amistoso no balcão do cafezinho. Eles nos oferecem uma estimulante dose dupla de talento e criatividade nas quarenta crônicas aqui reunidas – vinte de um, vinte de outro.
A crônica busca os seus temas preferenciais no cotidiano, nos pequenos dramas e comédias da vida real. Há que ter sensibilidade maiúscula e olhar arguto para identificá-los e catá-los no chão do dia a dia. Mas não é só. Sob o disfarce de conversa descontraída e sob a aparente simplicidade do gênero, esconde-se a sua maior dificuldade. Ser simples é muito complicado, como sabeis.
Os bons cronistas são aqueles que conseguem conferir aos seus temas um significado maior como representação do humano e da nossa história comum, sem perder o jeitinho de quem nada quer além de divertir o leitor e fazer-lhe alguns afagos.
Entendo, também, que os melhores cultores do gênero são aqueles que conseguem traduzir a voz e a sabedoria do povo nas ruas, nos chamam a atenção para o que não vemos, e expressam, com eloquência e leveza, com humor e compaixão, em delicada alquimia, tanto a nossa indignação quanto a nossa esperança.
Flávio e Jair. Jair e Flávio. Deste dueto de virtuoses, emerge a crônica com os saborosos temperos e os perfumes da terra amada. Quem entrar neste batuque em tão boa companhia dele sairá gratificado e de alma lavada, pois terá convivido com dois escritores de proa que se inserem na melhor tradição da crônica brasileira.
Eis textos de impecável talhe, que fluem como a água límpida de um regato a correr sobre leito de seixos. Eles nos proporcionam momentos de refrigério e de encantamento. A grande arte da narrativa transparece em cada uma dessas quarenta crônicas.
Entrem na roda para conferir. Mergulhem no “Poço da noite” com o Flávio, façam uma “Viagem a lugares comuns” na companhia do Jair, e, com eles, dancem jubilosos na roda do Batuque bem temperado.
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Sobre o Autor Mário Pereira:
O jornalista e escritor Mário Pereira, editor de opinião do Diário Catarinense, é o mais novo membro a ocupar a cadeira número 8 da Academia Catarinense de Letras. Com nove livros publicados sendo um sobre a História de Florianópolis.
Nascido em Porto Alegre(RS) há 62 anos. Com 40 anos no exercício da profissão de jornalista, começou a carreira como repórter e chegou a editor-chefe de importantes jornais do País. Trabalhou ainda em emissoras de televisão na capital gaúcha até decidir mudar para Florianópolis onde ajudou a fundar o Diário Catarinense na década de oitenta.