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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Estória verdadeiramente policial

 por Fernando Vilares (*)
Comunidades 20 dez, 2014, 02:46

Estória verdadeiramente policial por Fernando Vilares (*)

Fernando Vilares é polícia na cidade do Porto. Frequentador assíduo das correntes, descobri-o leitor voraz e atentíssimo. Depois, graças ao correio electrónico, apercebi-me que havia ali também muita atenção à vida, aliada a uma capacidade de descrevê-la.

O que aqui vai é um exemplo provado desse talento.

              Onésimo Teotónio Almeida

 

              Pintura de de Frederick Morgan

                     (Londres1847/1856 . 1927)

Estória verdadeiramente policial
       Fernando Vilares

A missão policial reserva inúmeras possibilidades de observar as profundezas e complexidades da alma humana. O delicado exercício de tentar descrever em palavras é uma segunda aprendizagem.
Ao operador de serviço, na Central de Comunicações, o que havia escutado tinha-lhe parecido insignificante e irrisório relativo ao pedido de comparência de uma equipa de emergência médica numa morada, dado o seu discurso.
Avançámos para uma averiguação mais pormenorizada. Parámos frente à residência, todavia já ali se encontrava uma ambulância do INEM. Entrámos e, na sala, o espaço era diminuto face ao número de pessoas que olhavam na mesma direcção. Avancei e pude ver mais de perto o motivo daquela reunião.
Sentado no sofá, um homem tomado por uma apatia total olhava em silêncio com os olhos postos no chão. O semblante era carregado, triste. Mudo.
À primeira vista, não apresentava ligaduras num braço ou num dedo, à semelhança de alguém que tivesse sofrido um acidente por uma fractura ou padecesse de uma infecção; contudo, o seu rosto sinalizava estar num sofrimento profundo. Era minuciosamente auscultado por duas técnicas especialistas de ambulância (TEA).
A dada altura, um telefone móvel tocou. A esposa, visto ser um telefonema de um colega de trabalho, solícita, passou o aparelho ao marido, que se mantinha indiferente. Com dificuldade levou o telemóvel ao ouvido e sem atender, proferiu:  Não estou para ninguém, acabo de chegar de um velório.  devolvendo a chamada, abatido pela amargura.
Nem pela tua mãe ficaste assim!  desabafou a senhora, estranhada com aquela entoação fúnebre.
  Custou-me tanto como a morte do meu pai.  Articulou estas palavras sem voltar a cabeça, tomado pela mágoa que sentia.
Foi o Boni...  soou num repente, uma voz. Todos olharam num certo sentido e até as socorristas se distraíram por instantes. Numa cadeira estava um menino sentado com os braços estendidos ao longo do tronco, as mãos debaixo das coxas, os calcanhares e as pontas dos pés afastados e com os seus olhitos azuis vagueando, que acrescentou, em jeito de adenda, depois de uma brevíssima pausa:  moleu.  Após o dito voltou a mergulhar numa certa ocupação, a de permanecer caladinho.
Mas a revelação do discreto assistente, foi como se inesperadamente sussurrasse a ponta do mistério para o desânimo do pai.
 Foi o cão, o nosso cão, senhor agente. Chamava-se Bonifácio (o nome foi por causa daquele gato do Eça, do escritor) e era enorme. Teve de ser abatido, contou a senhora como que forçada pela revelação do petiz.
Teve de ser abatido agora são as minhas desgraças.  Acabou por dizer muito baixinho, com a voz sofrida, inconformada, o pobre homem, com a cabeça baixa, tapando a cara com ambas as mãos.
 Gostávamos muito dele. E o pior, senhor agente, é que o meu marido teve de tomar uma decisão. Ou o animal ficava a sofrer ou  disse com o semblante de compaixão, não repetindo o destino aterrador do fiel amigo.
 Agora são as minhas desgraças.  repetiu o infeliz como se lhe estivesse predestinado o acto mais cruel, o de infligir a morte ao animal, e não o de por  fim ao seu suplício.
A companheira tentou animá-lo:  Ó homem, deixa lá, arranjamos um gatinho.
Quedou-se, pensativo com a mulher sentada ao seu lado, aquele rosto pálido e sombrio pareceu querer iluminar-se ante o estímulo, como quem começava a sentir que a vida poderia ser um pouco mais tolerável; mas, possivelmente recordando o velho companheiro já sem vestígios daquela energia de todos os dias, farejando, dançando e ladrando à sua volta quando pronunciava o seu nome, replicou:  Nem um grilo sequer  nada! Nem um grilo! Para mim acabou tudo. Para quê falar nisso? Valha-me Deus! concluiu numa decisão atormentada, com o semblante carregado por uma tortura ainda mais concentrada. O seu corpo parecia tomado pela inércia, petrificado numa tristeza sentado.

(*) Sobre o Autor Fernando Vilares. Natural de Angola, 55 anos, é cidadão português. Tem o 9º ano de escolaridade e é agente da Polícia de Segurança Pública na cidade do Porto.

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