Eu me (te) digo
Declaro-me aqui filha da terra
por mundos repartida
New York Coimbra S. Miguel
permaneço plantada no Nordeste
na claridade da terra infinita
Ouço violinos ao vento
quando sulcos imemoriais
tomam o volume do mar e
inefáveis sussurram a infância de cada passo…
Na ausência da casa sem murmúrio de pais nem mães
edifico no quintal a minha morada
Gosto de mondar cavar semear
sentir rente à pele a brisa redonda e muda
o sibilante cheiro da terra
a doce comoção da luz e das cores
o roçar quente da folha do milho
Da criança reservo a espontaneidade
o orvalho suave do espírito
o fascínio das mil flores
e tudo o que não tem nome
Da adulta
a Escuta a Espera…
gosto das contradições
e nos pólos mantenho viva a chama de cada uma
a mulher e a menina
quero-as firmes
Assim de carne e de sangue
de alma e de paixão
em nada sobejadas em nada subtraídas
Fazem parte do meu quintal
por onde me passeio
entre alvos malmequeres
magos brincos-de-princesa e
o rosa tenro da flor dos pessegueiros
No horizonte…
o risco tremido da hortênsia
Adelaide Freitas,
In Caminhos do Mar, Antologia Poética Açoriano-Catarinense,
Academia Catarinense de Letras, Florianópolis, 2005.
NOTA: Foto de http://mystery.bf-1.com/mystery-place/the-azores-top-10-unusual-island-territories