façamos o sinal da crise
… imagino-me peregrino da incerteza
viajante maltrapilho ao santuário da crise
a depor um malmequer amedrontado
junto ao sopé da imbecilidade feliz…
vislumbro pardais a esvoaçar delírios
de liberdade sobre o cativeiro dos crentes…
cemitérios fulminados pelo arco-íris
da certeza-da-morte sempre viva
parecem madrugadas a soprar claridades
depressa amortecidas pelo sol-posto…
ó céus! lá vai a ditadura da necessidade
no desfile da dor rendida à aspirina do rancor…
a sinfonia da fome não entende a batuta
da coragem da orfandade existencial
paramentada com crepes da culpa alheia…
ó céus! o divino parece um deus desatinado
pela clamorosa ausência da injustiça
no banco-dos-réus do tribunal da Verdade…
Ó virgem dúvida! vamos ao santuário da urgência
lembrar os deuses que a dignidade humana
detesta a conta-corrente da mentira…
Gentes! o segredo do cofre do sucesso
está algemado no orgasmo do excesso
enquanto a miséria se benze com o sinal da crise…
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joão-luís de medeiros
FOTO de Jorge Blayer Góis (Velas, S. Jorge, Açores)