Fala Brazuca
Há uma semana que não se pensa em outras curvas a não ser as da sua rotunda circunferência.
É como se cada habitante da Terra se transformasse num astronauta, só para subir à estratosfera e constatar:
– A [Brazuca] é redonda!
Assanhada como uma Cláudia Leitte, uma Jennifer Lopez, ela já chegou toda nua, num corpão redondo, mas sem dobras ou banhas. A [Bola] de hoje dispensa calcinhas, como a Sharon Stone, e já não necessita de câmaras de ar para se manter cheia.
Com um gesto “lânguido”, um tanto desdenhoso, próprio de quem é continuamente assediada, a gorduchinha autorizou a primeira pergunta:
– A quem você vai se entregar hoje, Brasil ou Croácia?
– Meu nome começa com “Bra”, e não faço propaganda de bancos, logo…
– Mas você não deveria ser imparcial?
– Claro. Mas só “fico” com quem me trata bem.
– E na Croácia ninguém te trata bem?
– Olha, até que o Luka Modric, o Rakitic e o Kovacic não me maltratam, mas como posso saber, com tanto “ic”, se estão elogiando minhas curvas ou tendo um ataque de soluço?
– E com qual dos candidatos à Copa você gostaria de se amancebar? Com os que podem ser Penta (Itália), Tetra (Alemanha) ou Hexa?
A Brazuca sentiu que havia uma armadilha embutida na pergunta. Como “noiva” potencial de 32 países, não poderia trair pretendentes e patrocinadores, assim logo à primeira vista. Claro que tinha lá as suas preferências, mas precisava ser dissilulada como aquela Capitu, mulher brasileira do século XIX, especialista em inocular nos homens a tortura da dúvida.
Foi reticente como a heroína de mestre Machado de Assis:
– Serei daquele que souber me acariciar melhor…
– E como é acariciá-la? Você chama chutes de carícias?
– Depende do chute. Com o peito do pé, é carícia. De bico, é bofetão. De canela, é sacanagem. Às vezes, saio dos estádios diretamente para formalizar uma queixa na Delegacia da Mulher…
– O Cristiano Ronaldo já te agrediu?
– Nunca. É um fofo.
– E o Hulk?
– Com os pés não é muito confiável. Mas sempre me amortece e me enternece quando bato no seu bumbum acolchoado…
– E qual dos brasileiros é o mais “romântico”?
– Gosto dos garotos. Oscar, Bernard e, claro, Neymar.
– E esse rapaz pentacampeão, o Brasil, tem tudo pra ser Hexa?
– Gosto dele. Mas já “fiquei” muito com ele, gosto de variar…
A entrevista com a [Bola], essa promíscua, só aumenta a angústia auriverde, a poucas horas do primeiro encontro de alcova.
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Sérgio da Costa Ramos. Escritor catarinense,nascido em Florianópolis,Ilha de Santa Catarina. Um dos mais festejados cronistas do Sul do Brasil. Assina coluna de crônicas no Jornal Diário Catarinense e encanta seus leitores com a linguagem elegante e bom humor derramado em cada palavra. Nesta crônica “Fala Brazuca” evidencia o característico bom humor, a picardia do ilhéu e a paixão brasileira pelo futebol.
membro da Academia Catarinense de Letras.