A ESPERANÇA
(Imitação do hespanhol.)
Doce Ilusão!… Bendita Esperança,
Do triste coração luz verdadeira!
A teu mago esplendor a mente alcança
Uma vida melhor, branda, fagueira.
Tu só és lenitivo aos soffrimentos,
Que o Supremos Senhor impoz à vida:
Sempre amiga appareces nos momentos
Em que a alma á dôr soccumbe amortecida.
Da infância esmaltas os risonhos dias:
Sorris á juventude amor, ternura:
E á trémula velhice os passos guias
Té no Creador sumir-ase a creatura.
Astro és na vida, lâmpada na morte;
Sempre ao coração nosso estás unida;
Sempre amiga fiel, constante, e forte;
Só te esvaeces quando foge a vida.
Do meu pobre existir, astro radiante,
As horas sempre escuras illuminas;
Não offusques teu brilho um só instante,
Oh! não me furtes tua luz divina!…
Felipe do Quental,
Ponta Delgada, Revista dos Açores, 1851.