As Horas
Partiste logo pela madrugada
p’ra esse «pic-nic» onde eu não ia.
Só virás tarde… como é longo o dia
Quando se espera a noite desejada!
Parece que não finda a romaria
das horas que se levam de contada,
se a nós na solidão, penumbra, nada,
só as horas nos fazem companhia,
monótonas, iguais e compassadas,
gerando, a pouco e pouco, na noss’alma
sombras crescentes, sombras transformadas
em dúvidas, ciúmes, loucamente…
Volta de-pressa, amor, beija-me calma
e fica ao pé de mim eternamente.
Félix Horta,
Livro d’horas,
Lisboa, Bertrand, 1938
Félix Borges de Medeiros Horta (1890-1961), natural da cidade de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, diplomata, poeta, trabalhou em China, Brasil, ex-Congo Belga e Inglaterra, tendo falecido em Lisboa.