A poesia não é um jogo de palavras,
Mas combina as palavras com os sentimentos.
Não sabendo como, jogamo-las.
Sinto as palavras partindo:
Não sei de onde nem para onde,
Não sei de quem, nem para quem.
Vejo-as apanhadas por alguém.
Sinto-as cuidadas, enclausuradas,
Ou talvez perdidas,
Nas emaranhadas células da razão.
Perdidas estarão,
Mas não no coração.
Viajam largadas numa trajetória incerta,
Rumando a um clone da mesma afeição,
Como numa aproximação tautocrónica,
Situada entre a física e a heresia.
A isso poder-se-á chamar Poesia?
Talvez!
Depende da crença ou sensatez.
Se acreditarmos na memória da água que nos compõe,
Ou no orgânico que nos putrefaz.
Se o eterno não fosse um conceito,
E a memória uma justificação,
Talvez pudéssemos tocar Deus pelo sentido das palavras:
Lançávamos pensamentos nas palavras,
Imprimíamo-las no efémero, menos passageiro do que nós,
Na esperança de se tornarem perpétuas com Ele,
E assim,
Tornar-nos-íamos imortais,
Porque lançávamos as palavras certas,
Que saltariam de instante para instante,
Até aos fins dos tempos.
Angra do Heroísmo, Agosto de 2013.
Félix Rodrigues