INSTANTÂNEOS
Aqui à frente
o jardim do infante dormita
Num banco vermelho
uma mulher com um filho ao colo
já velho
sacode-o aflita p’ra ele deixar de chorar
Sou capaz de apostar que está
com ganas de o deitar ao mar
No andar de cima
na residencial
adivinho um casal
numa cama larga
ela de joelhos
de olhos enevoados
agarrada ao espaldar
a apanhar cavacos
a sonhar fados
(a catita)
Uma loira iatista
de camisola laranja da Holanda desportiva
bebe um Bloody Mary autista
e olha-me com o sacos
dos olhos encovados
Na janela de rede para os lados
do Pico
uma ganhoa a flutuar no azul
– Na minha mesa atrás da coluna
A norte da cerveja matinal
o monólogo
a sul
“Gente feliz com lágrimas”
Lá longe ao rés da Espalamaca
o mar azul rugoso debruado
com uma fina linha de espuma
Fernando Reis Júnior,
Poemas,
[2013]
Açorianidade – 280