Texto para o catálogo da exposição de Ferreira Pinto –
“TEMPO NO TEMPO – TRANCENDENDO O ESPAÇO E O TEMPO”
A seguir a “Tempo no Tempo”, Ferreira Pinto expõe “Transcendendo o Espaço e o Tempo”.
O artista descola-se em definitivo de uma realidade que pré existiu em memória – terras do perdido continente dos Atlantes – Tempo de Crucificação da Atlântida.
Aqueles violentos vermelhos, a terra que se precipita pastosa, que em torrentes se jorra no mar coalhando-o de escombros, a vida que se despenha, a sabedoria que se perde, o sangue que se derrama, a beleza que totalmente se arruína dando início ao tudo que é preciso recomeçar, é a Atlântida perdida.
Desaparece todo o continente, a maravilhosa, leve, orgulhosa civilização atlante e fica a memória que manter-se-á ao longo dos milénios seguintes, no início fresca e dorida e depois gradualmente por via do tempo, transformando-se em Mito.
O registo Akáshico guarda toda a dimensão da tragédia que doravante fica pertença do inconsciente colectivo.
É então que surge a obra dos artistas – pintores, músicos, escritores, artesãos, realizadores de cinema, gente que trás consigo mais activas as sementes da co-criação. São seres inquietos, que mais ninguém entende, vagueiam pelos ateliers, telas e folhas em branco, visualizam as pautas por preencher e no seu febril estar, tomam de assalto o inconsciente da humanidade. E, encontram a Memória, e precisam de exorcizar a Memória, e precisam de curar a Memória.
É isso que faz Ferreira Pinto neste percurso dos últimos anos. “Tempo no Tempo” é de natureza Akáshica, “Transcendendo o Espaço e o Tempo” já não é. “Transcendendo o Espaço e o Tempo” trás a cura, eleva-se definitivamente a caminho de um astral mais puro.
Estes quadros são fruto da redenção e da esperança e definitivamente propõem uma nova cosmogonia.
Entrada a civilização da Galáxia na nova Era de Aquário, Tempo da Luz, Quinto Império ou Idade do Espírito Santo, Ferreira Pinto desenha novos caminhos e ajuda a descerrar o véu que ainda cai sobre a Nova Terra e os Novos céus.
No primeiro quadro da mostra podemos ver como foi “Tempo no Tempo” – rubro de dor, rubro de violência, vermelho do medo, mas já a esperança, já um novo céu, já uma nova Luz, já um outro alento. Depois vamos seguindo. Um por um, estes quadros abrem-se a novas verdades e outros despertares que não apenas os das madrugadas humanas.
Estamos perante o céu de Platão, cortados que foram os grilhões dos que antes viveram acorrentados na Caverna, tomando por realidade aquilo que era apenas sombra. Solta-se a ilusão, liberta-se o homem, rasgam-se os sentidos. Vamos de leveza em leveza, de cor em cor, cada vez menos densos, cada vez mais luminosos. O artista mostra-nos de perto, grandes planos de outros mundos. O planeta é rosa, amarelo, suave, interage com os outros planetas e estrelas – retoma a sua plena alegria. Gaia é o Ser Divino, esquecido desde Atenas, soterrado juntamente com os gregos. Desenham-se tubos de luz que põem o universo de novo em comunicação com Deus, Deusa.
Generosamente o artista mostra-nos como é. Sobretudo a partir da cada vez mais etérica paleta de cores, mas também das figuras, manchas e símbolos sempre mais suaves ou ainda e também do ritmo que corre cada vez mais fluido – ao espectador é desvendado um pedaço do devir.
No centro da exposição estamos no domínio dos astros deuses que semeiam o firmamento e aqui tudo parece possível – o mapa dos céus desenhado, as estradas apenas condensadas nos símbolos que ainda faltam desvendar. Esteticamente é bonito e apetece tudo recriar, aqui uma estrela, o rasto de um cometa, um raio dourado de Hélio e ou a marca triangular da divindade. Se na imaginação rodarmos a estrela transcenderemos o espaço e claro que o tempo e seremos levados no fio da espiral numa alucinante viagem que vai de alfa a ómega. Encontraremos no fim ou finalmente, conforme a impaciência do espectador, a divindade.
Alçado nos caminhos da Surrealidade Mística, Ferreira Pinto conduz-nos a esses domínios do inesperado.
Nos dois últimos quadros chegamos ao fim da primeira etapa, estamos perante a Paz alcançada através do incondicional amor por toda a obra do Criador que se transcende em unidade com a criatura criada. São os mais místicos de toda a mostra, são para já o alfa possível.
O artista “Transcendeu o Espaço e o Tempo”.
Teresa Tomé
Ponta Delgada, 29 de Dezembro de 2009