– FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO –
B.I. DA CULTURA AÇORIANA NO SUL DO BRASIL
Se me fosse dada a tarefa de construir um mapa cultural do Brasil e ali registrar as principais festas religiosas tradicionais que ocorrem na vastidão territorial do País, com absoluta certeza, a Festa do Divino Espírito Santo seria de longe a manifestação de maior incidência cultural em todos os vinte seis Estados da Federação e Distrito Federal, desde o Amapá até o Rio Grande do Sul ou de Sergipe à Amazônia. Se esta representação cartográfica fosse sinalizada, simbólicamente, com uma emblemática bandeirinha vermelha (a do Divino) em todos os municípios brasileiros que celebram o Espírito Santo, de um total de 5.565, o resultado quantitativo seria surpreendente. Um Brasil inteiro vestido de Espírito Santo tal é a forte presença do culto e sua celebração por terras de Vera Cruz.
Popularizado como “Culto ao Divino” tem especial visibilidade no Sul do Brasil, sobretudo em Santa Catarina, alimentada por uma tradição de 265 anos que, mesmo modificada na passagem do tempo, se faz sentir em plenitude por todo o litoral e,também, na serra catarinense onde foi levada por tropeiros paulistas, gaúchos e insulares açorianos.
A Festa do Espírito Santo constitui a maior expressão de transnacionalidade cultural a partir da emigração açoriana do Séc. XVIII para o Sul do Brasil. Paradigma de excelência de uma situação imigratória cujo estudo, apesar de ter um recorte individual, é um ótimo exemplo na abordagem da complexidade e da diversidade da cultura brasileira e, ainda, na compreenção do fenômeno social da mobilidade humana.
As mais antigas referências sobre a existência da Irmandade e a celebração da festa em Florianópolis datam de 1773, ano da instituição da Irmandade do Divino Espírito Santo da Paróquia Nossa Senhora do Desterro e de 1776, ano da realização da primeira Festa do Espírito Santo. Somente em 1806 aconteceu a primeira Festa com Coroação, sendo coroado o açoriano Capitão Manoel Francisco da Costa.
Passaram 237 anos a Festa não arrefeceu. Cresceu e se expandiu na região da Grande Florianópolis e para além, salvaguardando a sua memória cultural e evitando que enfraqueça a sua celebração.
Neste 19 de maio é o Domingo de Pentecostes, domingo da “pombinha”, da celebração do Espírito Santo. A bandeira do Divino,desde a Páscoa, realiza o seu périplo onde não falta o tambor,a viola, a rabeca, a cantoria dos foliões e o pedido de esmola para fazer a Festa em louvor ao Divino Espírito Santo.
Por todo Estado de Santa Catarina, é tempo do Espírito Santo.São os caminhos do Divino abertos por naus açorianas ou baleeiras aladas no distante século XVIII. Trilhá-los é reacender junto ao espelho da memória parte de um caminho do passado, e de agora, ancorados nos valores culturais e na religiosidade telúrica que entre signos sagrados e profanos, emerge com a força de resistência nascida da alma coletiva ou, intencionalmente, (re)inventada.
As mundividências de uma açorianidade sobrevivente por ritos ancestrais de oralidade encontram na Festa do Divino Espírito Santo o seu pulsar e o rosto de sua identidade. Eis, o R.G. da cultura açoriana temperado com o jeito maneiro de ser da nossa gente catarina.
Viva o Divino Espírito Santo!
Florianópolis,Ilha de Santa Catarina,15 de maio de 2013
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