No exercício do cargo de Secretária da Academia Catarinense de Letras coordeno o Informação Acadêmica e mantenho contato com outras Academias e Associações literárias no âmbito do Estado e do País. Entre estas,sobretudo, a Academia Brasileira de Letras,a Casa de Machado de Assis, a entidade espelho de todas as Academias.
Semanas atrás entrei no site da ABL para saber dos próximos eventos e conferências e ler as notícias daquela egrégia Casa. Qual não foi a minha surpresa ao deparar com o artigo do Acadêmico,Poeta e ensaísta Antonio Olinto,publicado na ABL,sobre o meu livro Caminhos do Divino (Insular,2007,2010).
http://www.academia.org.br/antigo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=31&infoid=5946&sid=576
Fiquei muito surpresa e feliz. Fiquei triste por não ter tido a oortunidade de agradecer ao escritor Antonio Olinto, em vida, a sua generosidade e elegância e por dedicar a sua atenção na leitura e na resenha "Festa do Povo". Ele que foi o mestre no estudo das manifestações da cultura popular brasileira,sobretudo as oriundas da cultura AFRO, sua grande paixão,sendo um grande colecionador da Arte brasileira e africana.
Foi casado com a jornalista e escritora Zora Seljan.
Sua obra abrange poesia, romance, ensaio, crítica literária e análise política.
Por Yansã, Saravá Antonio Olinto!
FESTAS DO POVO
Antonio Olinto
A memória da colonização brasileira, mantida em cada região através de livros, de monumentos, de festividades populares e de tradições religiosas, ajudou o País a preservar sua extensão geográfica e sua identidade nacional. A cada momento, nossa bibliografia no setor aumenta e vem revelar aspectos regionais em que essa realidade se afirma.
Nossos produtos participam também desse conjunto existencial que nos formou. A cana-de-açúcar, o cacau, a borracha, o café, ajudaram a firmar o País, cuja cultura se diversificou e, a partir da independência, iniciou o duro labor de erguer sua literatura própria. Antes disto, realizou-se o povoamento definitivo do Sul com a chegada dos açorianos, que ali se estabeleceram a partir de 1748, depois da criação da Capitania de Santa Catarina a 7 de março de 1739 por D. João V, Rei de Portugal. Os lugares começaram a surgir: Camboriú, Araguari, Itajaí, Laguna, Garopaba, Mirim, Tubarão, Araranguá.
O volume de ampla pesquisa e de análise do que foi o desenvolvimento da região, primeiro com os açorianos e, em seguida, com italianos, espanhóis, alemães, russos e japoneses, é de Lélia Pereira da Silva Nunes e tem o título de "Caminhos do Divino – olhar sobre a Festa do Divino em Santa Catarina". Todo um hinário religioso, ido de Portugal para os Açores e de lá para o Brasil, aparece no relato das festas, que é minucioso como deve ser todo trabalho sobre as tradições do povo, inclusive com os versos que são cantados durante os festejos. A festa é religiosa, mas é festa, com seu tom de carnaval, suas danças, sua alegria geral.
Os textos do desfile são ainda os que se cantavam nos Açores. Como estes: "Pelas casas a Bandeira/ Vai cantando com amor/ com as violas e a rebeca,/ a sanfona e o tambor./ Segue agora a Bandeira/ com a Corte Imperial/ com as bênçãos do Divino/ ao Salão Paroquial."
Em cada celebração do Divino Espírito Santo, é eleito, pela cidade, um Imperador e uma Imperatriz e várias Damas. A festa é realizada no Domingo de Pentecoste que é também o Dia do Espírito Santo.
O autor destas linhas conheceu o assunto por ter sido batizado num lugar chamado Espírito Santo do Piau, terra de minha mãe, a 60 quilômetros de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A tradição portuguesa – via açorianos, chegou a Santa Catarina através dos açorianos que a haviam recebido diretamente de Portugal. Assim, podem as pesquisas que vêm sendo feitas em várias partes do Brasil chamar a atenção para muitos de nossos hábitos religiosos que se mantêm mais ou menos intactos depois que foram aqui adotados.
Além do Natal e do Ano Novo, datas universais, o Brasil mantém vivas as festas de Santo Antonio, São João, São Pedro, São Jorge, a do Senhor do Bonfim, a de Aparecida, a do Padre Cícero e a de Belém do Pará, entre muitas outras, com música, danças e roupas típicas.
A influência açoriana, principalmente no Sul do Brasil, nunca foi tão bem analisada, com detalhes, como neste estudo de Lélia Pereira da Silva Nunes. É com unção que às vezes um participante das festas em qualquer parte da região de origem açoriana em Santa Catarina menciona a expressão "Cultura ilhoa". Como na crônica de Aldírio Simões, em jornal catarinense, que depois de anunciar a festa do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora das Necessidades, fala na presença da Filarmônica da Ilha do Pico em Açores que pela primeira vez iria tocar em Santa Catarina. Escreveu então o jornalista: "Quem ainda mantém vivo na memória o sentimento da `cultura ilhoa’ não pode perder esta festa".
"Caminhos do Divino – um olhar sobre a Festa do Espírito Santo em Santa Catarina", de Lélia Pereira da Silva Nunes, é um lançamento da Edição Insular, com ilustrações e fotos em cores. Apresentação de Maria Beatriz Rocha Trindade. Boa e vasta bibliografia sobre o assunto. Editor Nelson Rolim de Moura e planejamento gráfico de Carlos Alberto Serrão. Revisão de Sérgio Carderaro e arte de capa de Vera Sabino.
A folha de rosto do volume homenageia a data em que os açorianos chegaram a Santa Catarina: "1747-2007 – 260 anos da primeira partida dos casais açorianos para Santa Catarina a 21 de outubro de 1747 do Porto de Angra, Ilha Terceira".
Tribuna da Imprensa (RJ) 21/8/2007
Sobre o Autor: ANTONIO OLINTO
Antonio Olinto (Nome completo: Antonio Olyntho Marques da Rocha) nasceu em Ubá (MG), em 10 de maio de 1919, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12 de setembro de 2009.
Foi professor, jornalista, escritor e crítico literário.
Sua obra abrange poesia, romance, ensaio, crítica literária, análise política, literatura infantil e dicionários.
Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1997,ocupou a Cadeira 8.
Recebeu o Prêmio Machado de Assis – 1994, pelo conjunto de obras, da Academia Brasileira de Letras, a mais alta láurea literária do Brasil. Em 2000, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da Faculdade de Letras do Conjunto Universitário de Ubá (MG) e o Diploma de Excelência da Universidade Vasile Goldis, de Arad (Romênia), pelo seu trabalho de difusão da cultura brasileira naquele país. Em 2003, inaugurou na Faculdade de Letras Ozanan Coelho, de Ubá, uma biblioteca de 34 mil volumes que recebeu o seu nome. Em 2004, o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro outorgou-lhe o Título de Sócio Grande Benemérito.
(fonte: ABL)
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