SAUDADE
A vibração suave da alegria
Passa no coração tão velozmente,
Quasi, como o relampago fulgente
Que corta rapido a amplidão sombria…
A dor, que em transes vivos d’agonia
Tortura o peito que profunda a sente,
A própria dor, esvai-se lentamente…
Vai-a gastando o tempo, dia a dia…
Há um sentir, porem, que, mais duravel,
Que o prazer e que a dor – acre e inefavel –
Sobrevivendo a todos a alma invade:
Esse sentir… é como que uma essencia
Das flores que nos murcham na existencia…
Morre connosco… e chama-se – Saudade!
Filomena Serpa,
Os Açores: revista ilustrada,
Ponta Delgada, Dezembro, 1928.