Cronista,nasceu em Lauro Müller, na região carbonífera de Santa Catarina, ao pé da Serra do Rio do Rastro, nascente do Rio Tubarão. Fez os caminhos de ferro pela EF Dona Thereza Christina, acompanhou as voltas do rio e chegou a Tubarão onde estudou e participou ativamente das atividades culturais da cidade Azul.
Conheceu o mar quando já tinha onze anos, fato que viria a ter grande repercussão em sua atividade de ficcionista. Boa parte do que escreveu tem por temática as coisas e as gentes à beira-mar, o cotidiano da Ilha de Santa Catarina, os traços remanescentes da presença açoriana, em textos plenos de lirismo, humor e imaginação.
Escreveu os livros de contos Singradura (1ª edição, 1970), Zélica e outros (1ª edição, 1978) , Longínquas baleias (1986) e), Guatá (2007) e dos volumes de crônicas e ficção curta Água do pote (1982), Sobre sete viventes (1985), Beco da lamparina (1987), Sofá na rua (1988), Tiroteio depois do filme (1989), Senhora do meu Desterro (1991), Trololó para flauta e cavaquinho (em parceria com o escritor Silveira de Souza, 1999) e Uns papéis que voam (2003), Duas violas Arteiras (crônicas, em parceria com Sérgio da Costa Ramos,2008).
Em 2002, estreou na literatura infantil com O tesouro da Serra do Bem-bem. Seus textos foram adaptados para o teatro, a televisão e o cinema.
Os livros Singradura e Zélica e outros se destacam na sua bibliografia. Singradura de feição mais lírica, enquanto em Zélica e outros o tom é de farsa. Temos aí, como escreveu Assis Brasil, "um exemplo notável de como é possível fazer humor, ser satírico e pícaro ao mesmo tempo, sem resvalar de um nível literário dos mais incisivos". Na narrativa desses contos é revelada com perspicácia a transformação do universo dos pescadores e praieiros, os conflitos e a resistência às mudanças que acompanham o inexorável processo de urbanização. Rica em elaboração e conteúdo é uma obra sensível à memória social de nossa gente.
Flávio faz crônica com humor e encanta com o jogo das palavras. Nesse gênero, transcende o espaço local para explorar todos os temas. Debruçado sobre os fatos humanos capta imagens, pincela com humor e colore o cotidiano por vezes amargo, extraindo dele o seu universalismo. O estilo é muito pessoal. A comunicação flui leve e solta, numa linguagem cheia de sutileza e malícia, tão própria do espírito "manezês" Observador atento, não perde a ocasião de registrar a memória do lugar em que vive ,o repertório afetivo do praieiro e o imaginário insular. Seus personagens passeiam com naturalidade e espontaneidade em suas histórias, ganham força e nos impressionam tanto.
Foi com essa capacidade de domínio verbal, de tecer filigranas e perceber as sutilezas do tempo e espaço, que ele manteve durante anos, diariamente, sua coluna de crônicas (e de muitos pequenos contos) no jornal "Diário Catarinense", de Florianópolis. Posiciona-se como viva voz na defesa das questões culturais e das tradições ilhoas. Participa ativamente na vida da comunidade onde mora, no Caminho dos Açores (nome por ele sugerido ao poder público), na linda freguesia de Santo Antônio de Lisboa, na Ilha de Santa Catarina.
P.S. O referido texto integra o artigo A presença Açoriana na Literatura Catarinense e foi publicado originalmente no SAAL,Suplemento Atlântico de Artes e Letras,Revista Saber, Nov.2004