Florianópolis e a Memória dos Afetos
Março, inquieto e caprichoso com dias pendulares entre o Verão de ontem e o Outono de hoje. Chuvas quase diárias e rajadas do Vento Sul, que varre todos os cantos, revolve o mar, acaricia as ondas e beija apaixonado a nossa Ilha. Março outonal– estação da vida, da fecundidade, do amainar a terra e deixar nascer a boa semente. No ar, o aroma de fruto, de sensualidade desaguando em desejos sem fim, em saudade de pessoas e lugares, alimentando o imaginário e os afetos.
Acaba de nascer o primeiro fruto da estação, gerado na Arte Literária do jornalista e escritor gaúcho de Porto Alegre, Mario Pereira, que há três décadas deixou o “Porto dos Casaes,”partiu para a Desterro de Franklin Cascaes,caiu de amores por Florianópolis, pela Ilha de Santa Catarina e aqui ficou, lançando sua âncora da esperança no mar circundante. Na terra que sempre acolhe a boa semente vincou suas raízes –“A terra é mais que boa quem disser o contrário mente”, profetizara o bandeirante vicentista Francisco Dias Velho, fundador de Florianópolis, em carta de 20 de abril de 1681. Que melhor presente “um filho de coração” não poderia dar a sua cidade, no dia de seu aniversário, do que o imenso afeto registrado nas páginas de um livro? “Roteiro Histórico e Sentimental pelas Ruas de Florianópolis” é a prenda de aniversário para esta terra dadivosa, sedutora e que chega aos 287 anos de “cidade” com a fama de ser uma capital multicultural que sabe receber de braços abertos a todos que a elegem para seu lugar de destino.
Mario Pereira, escritor já “manezinho” que, sem qualquer concessão, ocupa um importante espaço da literatura contemporânea dos catarinenses e, reconhecidamente, em outros espaços da comunicação social de Santa Catarina como jornalista e como professor do curso de Jornalismo da UNISUL.
Seu catarinensismo está aqui patenteado de forma absoluta e encantadora no criativo Roteiro Histórico e Sentimental pelas Ruas de Florianópolis (Ed.UNISUL) que convida-nos a caminhar pelas ruas de Florianópolis na companhia de personagens da nossa história cultural, alguns até esquecidos no limbo da memória coletiva. Da cidade que se alonga e abraça o continente fronteiriço vai entrelaçando histórias e sonhos. Sua narrativa saborosa se faz sentir ao correr da pena elegante e sutil, na prosa suave, na linguagem leve no fluir gostoso a falar de vivências e lugares e no descortinar da memória de quem sabe entreter o leitor como um mágico que conhece a força do instante.
Mario Pereira, retira do baú dos afetos – o bandeirante Dias Velho, beata Joana de Gusmão, Irmão Joaquim, o marinhista Virgílio Várzea, Franklin Cascaes, Conselheiro Mafra, Antonieta de Barros, o pintor Victor Meirelles, o poeta Cruz e Sousa e registros tristes da Revolução Federalista (1893/94).
Histórias, reais e imaginárias, tout court significante, que no bailar da palavra traduz a memória dos afetos de todos nós.
Florianópolis,23 de Março de 2013
Aniversário de 287 anos de Florianópolis