O Ciclo do Divino está apenas começando…Sua grande Festa será no Domingo de Pentecostes, dia 23 de maio, quando se instala o Império da Igualdade que a cada ano se renova com muita devoção em louvor ao Divino Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Uma tradição abençoada da nossa cidade, da nossa Ilha e do continente. Uma tradição com 262 anos, que chegou com os açorianos no século XVIII.
É a Festa da partilha, do espírito solidário, da comunhão, da liberdade e da alegria
No município de Florianópolis, a quarta-feira anterior ao domingo de Pentecostes foi instituída como o Dia Municipal de Abertura Oficial das Festividades do Divino Espírito Santo, conforme determina a Lei 8010 de 21 de outubro de 2009.
Assim sendo, no dia de hoje, 19 de maio de 2010, quarta-feira, aconteceu a abertura oficial das festividades do Espírito Santo com solenidade pública realizada na Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes.
A partir deste dia está instaurado o Império do Divino e sua bandeira ficará hasteada até setembro de 2010, data em que se realiza a última Festa do Espírito Santo do município, no distrito de Canasvieiras
A criação deste dia pela Câmara Municipal de Florianópolis está plenamente justificada na tradição secular de celebrar a Festa do Divino Espírito Santo e que se reproduz por toda Ilha de Santa Catarina e na estreita faixa de terra continental que integra o território físico do município.
Um território abençoado por uma natureza privilegiada, que tem o mar como fronteira maior e que é referência de identidade insular.
A cidade de Florianópolis retrata um perfil cultural singular resultante de um processo histórico de fusão de culturas, de assimilação, de trocas simbólicas que aconteceram ao longo dos séculos. Neste universo de contribuições culturais encontram-se os índios Carijós – pertencentes ao Grupo Tupi-guarani, os bandeirantes vicentistas, os escravos africanos e os açorianos. A amálgama original deste fundamento étnico e cultural somou-se outras correntes imigratórias de alemães, italianos, poloneses, gregos e libaneses aqui estabelecidos a partir do século XIX. Nos anos setenta, do século XX, um novo movimento migratório emerge decorrente do processo de globalização e da busca de qualidade de vida numa cidade que oferece o melhor potencial de investimento do País. Novos migrantes provenientes de países da América Latina e brasileiros de outros Estados, principalmente do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo que de forma significativa tem influenciado na dinâmica do processo cultural local.
Um notável encontro de povos que fez de Florianópolis um exemplo de diversidade cultural, um espaço para vivenciar o pensar plural, de conviver com gente de outras latitudes e geografias. Um povo cordial, hospitaleiro, trabalhador, pacífico, que sabe ser tolerante, respeitar as diferenças e comungar a pluralidade étnica, a diversidade sociológica e cultural que o identifica.
Na geografia das almas desta Ilha-cidade, nos caminhos percorridos por muitas gerações de florianopolitanos foram os açorianos que marcaram de forma definitiva a trajetória de sua presença na construção da sociedade do litoral catarinense.
Sobre os habitantes de Florianópolis e sua índole assim se expressou o escritor Virgílio Várzea (1863-1941), em sua obra “Santa Catarina – A Ilha“ cuja primeira edição é de 1900.
“ O povo catarinense, descende em sua quase totalidade
de ilhéus açorianos e madeirenses, principalmente dos
primeiros, de quem herdou o caráter humilde e bom, as
excelentes qualidades morais,a índole trabalhadora
e paciente, de uma rara tenacidade, afazendo-se
facilmente às dificuldades, às privações e agruras do meio
conformando-se com tudo, pacífica e resignadamente.”
(1984:19)
A Provisão Régia de 31 de agosto de 1746 que abriu o alistamento em todas as Ilhas aos “cazaes” que, voluntariamente, quisessem atravessar o oceano e tentar a sorte na América solicitava informações minuciosas sobre a identificação dos candidatos, tais como: nome, naturalidade, idade, a estatura, a cor dos cabelos, da pele e dos olhos, o formato do rosto, do nariz e da boca, tipo de barba, profissão, residência, estado civil. Aos casados ajuntava-se o nome da mulher, a sua filiação, naturalidade, e idade, e caso tivessem filhos, os nomes, sexo e respectivas datas de nascimento. Dados que permitiram traçar um perfil sociológico e demográfico do homem e da mulher açoriana que se alistaram dispostos a emigrarem trocando de forma corajosa a difícil realidade da vida árdua do Arquipélago rumo a incerteza de uma outra terra que tanto prometia e dela nada sabiam.
O movimento migratório do século XVIII (1748-1756) que trouxe para o Sul do Brasil, aproximadamente seis mil açorianos provenientes das Ilhas de São Jorge, Pico, Faial, Terceira, Graciosa e São Miguel e pouco mais de sessenta madeirenses assentando-os na Ilha de Santa Catarina e ao longo da orla atlântica representou um significativo marco na historiografia social e cultural catarinense. Pode-se entender a importância desta maciça entrada de pessoas que efetivou a ocupação da Ilha e quadruplicou a escassa população que, à época, não passava de algumas centenas de habitantes. Um contingente humano expressivo que não apenas causou grande impacto demográfico, mas evitou a ocupação espanhola no Brasil Meridional e conferiu à população da Ilha de Santa Catarina e de todo litoral catarinense, a caracterização de um quadro cultural cujos traços sobreviventes são visíveis sob diversas formas e matizes.
Nas palavras do primeiro historiador catarinense, Manoel Joaquim de Almeida Coelho, em sua obra “Memória Histórica da Província de Santa Catarina”,publicada em 1853 e reeditada em 1877, pode-se avaliar a extensão da contribuição dos povoadores açorianos e a importância do papel desempenhado no nosso desenvolvimento:
“ Desde a chegada desses colonos, começou a Ilha a florescer em habitantes,
em agricultura e mesmo em indústria manufatureira, apesar de terem sido mal
cumpridas as recomendações do governo de Portugal, assim a respeito da
repartição das terras, como do tratamento prescrito nas Provisões do Conselho
Ultramarino, resultando daí abandonarem alguns colonos o país, e outros
arrependerem-se de ter vindo;(…)”
E acrescenta ainda Almeida Coelho:
“ Foi com a distribuição desses colonos prestimosos e interessantes pela Ilha,
e alguns lugares da terra firme,que se formaram as melhores povoações,hoje
convertidas em cidades,vilas e freguesias;podendo dizer-se,sem risco de erro,
que poucas são as atuais famílias catarinenses que deles não descendam.”
As crônicas mais antigas falam de celebrações e festas religiosas tradicionais e quais as mais concorridas em toda Ilha, bem como sua importância no contexto social e político de Desterro.