Florianópolis, terra boa
Já escrevera o bandeirante vicentista Francisco Dias Velho, fundador de Florianópolis, em carta datada de 20 de abril de 1681 que : “A terra é mais que boa quem disser o contrário mente. Digam que não podem estar onde não há gente e não digam que não presta a terra… Eu me contento muito com a minha sorte…” Palavras proféticas! Duzentos e oitenta e cinco anos de Vila ou será de Vila-Ilha, Florianópolis continua linda. Uma capital que se esparrama numa ilha de boa terra, flora fascinante e paisagem exuberante, das dunas da Joaquina, das quarenta e duas praias, restingas, manguezais e lagoas como a da Conceição. “Jamais a natureza reuniu tanta beleza,jamais algum poeta teve tanto pra cantar(…) proclamam os versos do Rancho de Amor à Ilha,do poeta Zininho e Hino oficial de Florianópolis.
Florianópolis, um nome que atravessou o tempo, cativou a alma do ilhéu alojando afetos e construindo o imaginário insular. O fato de a Ilha abrigar a Capital do Estado de Santa Catarina, desde os tempos de Capitania, fortalece a relação Ilha-Capital e transmite aos seus moradores a consciência e o imaginário da insularidade.
A literatura alienígena e a iconografia colorida dos viajantes estrangeiros que se aventuraram pelas águas do Sul do Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, são registros irrefutáveis que os nossos visitantes já se deslumbravam com a beleza da ilha idílica e a boa índole do nosso povo como anotou o viajante John Mawe em 1807 ao arribar na Ilha vindo de Buenos Aires. Em sua obra “Viagens ao interior do Brasil” (Londres, 1812) Mawe comenta sobre as belezas naturais da ilha, fala da organização da Vila de Desterro e da vida prazerosa de seus habitantes: “a cidade proporciona agradável retiro aos comerciantes afastados dos negócios, comandantes aposentados e outras pessoas que, tendo assegurado a sua independência, procuram apenas lazeres para desfrutá-la.”(p.52) lança um olhar futurista sobre a vocação turística de Florianópolis que chega aos dias de agora como uma das cidades mais queridas do País e o destino preferido de muitos brasileiros. E não só os nacionais caem de amor por Floripa. Mais de duas dezenas de viajantes estrangeiros deixaram relatos preciosos em sua passagem e estadia na nossa Ilha-Vila profundamente seduzidos e encantados por sua formosura.
Do passado ao presente, na trilha das gerações, outros apaixonados declaram o seu amor de todos os jeitos e formas, seja na real ou no mundo virtual. Vozes de perto ou de distantes geografias eternizaram a sua beleza na prosa, na poesia, no canto, na linguagem plástica das formas em cores quentes e fortes como o poema Ilha e Mulher (1959), de Maura Senna Pereira, ela que carregou a Ilha dentro de si até o dia de sua morte, aos 88 anos, no Rio de Janeiro: Meu corpo é o teu imenso corpo de ilha/e minha alma invade as tuas entranhas participando da tua febre criadora./Meu sangue é o rasgão líquido dos teus rios/a linfa nervosa das tuas cachoeiras/a água matuta das tuas lagoas. (…)
Amo a Florianópolis de ontem, do velho Miramar e da Alfândega, a Floripa de hoje e a de amanhã que será cantada por nossos filhos e netos, por seus encantos e contrastes, cuidada como um tesouro por nossa gente.
Capital cosmopolita, com praias lindas, reduto de uma juventude bonita, “sarada”, surfistas atraídos por suas ondas gigantescas, que convive com freguesias bucólicas onde o ritmo da vida segue o compasso das ondas do mar que buscam mansamente a carícia da areia da praia. Gente hospitaleira, com seu linguajar cantado, ligeiro e irônico, um jeito todo seu de ser, de estar, de viver, de partilhar sabedoria guardada nas entranhas do mar e salvaguardada na memória coletiva.
Cenários de ontem e de hoje. Símbolos de uma cidade feminina, amada e reverenciada pelos que aqui vivem ou pelos que chegam e não querem mais sair enlaçados por seus “samburás” – um balaio de povo, de vida, de histórias, de memórias da nossa gente. Um território de pura magia, uma bruxa voluptuosa que se ergue do mar, não como abrigo de uma “velha cidade menina”, mas como a Capital-Ilha-Mulher sensual, linda e faceira. Cheia de segredos, misteriosa como a orquídea, sua flor símbolo.
Florianópolis, a cidade de todos nós é o nosso maior presente.
Lélia Pereira da Silva Nunes
23 de Março, 287 de anos de Floripa!