O arquipélago dos Açores vive um momento de grande transformação que vai além de obras edificadas em todas as ilhas, oferecendo uma melhor qualidade de vida para a população e um maior desenvolvimento dos espaços insulares. Por todos os lados observa-se um crescente processo de interação com o mundo exterior expandindo-se em convivências sociais globais. Busca-se a identidade aberta, a transnacionalidade cultural e o continuado reconhecimento da existência de Diásporas, na diversidade da sua dispersão geográfica e na arquitetura dos traços culturais que caracterizam a vida das comunidades que as constituem.
As marcas de um fenômeno social multifacetado são visíveis no debate que aí se estabelece, de forma intensa, em torno de questões históricas, demográficas, econômicas, políticas, culturais e sociais. Um diálogo consciente da importância do "saber por excelência", da inovação, da investigação e do reconhecimento das potencialidades inerentes à região e às comunidades diaspóricas. Assiste-se a uma necessidade de partilhar vivências, de trocar experiências, de desenvolver projetos de interesse específico dos Açores ou projetos num contexto transnacional, como nos espaços integrados insulares da Macaronésia aproximando e fortalecendo a interação das diferentes diásporas e colocando em marcha programas que beneficiem o seu desenvolvimento pleno.
Inúmeras Conferências, Colóquios, Congressos e Fóruns com temário diversificado aconteceram nos Açores nos últimos tempos. Não obstante, todos os eventos refletiam a mesma preocupação com o desenvolvimento da Região e das Comunidades, como o Fórum GNOSIS – "Redescobrindo Raízes", realizado no início do mês de junho na cidade de Angra de Heroísmo, Ilha Terceira, no âmbito do Programa de Iniciativa Comunitária Interreg IIIB, Projecto GNOSIS – a Bkat Consulting em parceria com a Vice-presidência do Governo Regional dos Açores e da Direcção Regional das Comunidades, tendo por objetivo aproximar mundos da diáspora dos Açores, Madeira, Canárias. Na pauta, o desejo de estabelecer não apenas um intercâmbio de idéias, mas promover a criação de networkings internacional em diferentes áreas de conhecimento e de atuação social. Criar um Portal na Web – um grande Silo do Saber – construído com a mais moderna tecnologia da informação para armazenar conhecimentos sobre as Comunidades açorianas e seus descendentes. Aberta as comportas deste grande Silo, o seu precioso conteúdo será disponibilizado – "o Manah" – a produtividade do que cada comunidade tem de melhor de si, levando no seu bojo a marca de certificação de qualidade do Projecto Gnosis.
Este mesmo Portal ou Silo vai deixar fluir livremente, por intermináveis levadas, a comunicação inter e intra Comunidades, desaguando em fóruns permanentes e potencializando as sinergias em futuros projetos de cooperação, numa grande rede espalhada nas duas margens do Atlântico, como uma grande ponte a uní-las em benefício do bem coletivo. Um espaço de comunhão e de mobilidade coletiva a desenhar mais do que uma geografia de saudade. A construir um mapa do conhecimento das potencialidades de cada Comunidade, criando mecanismos de efetiva comunicação entre estes, sejam vozes açorianas, madeirenses e canárias expressas em português, espanhol ou na língua pátria de seus filhos nascidos na terra de acolhimento e de pertença dos seus descendentes.
O Fórum Gnosis estabeleceu o diálogo aberto e plural entre diferentes Instituições açorianas do Canadá, Estados Unidos e do Brasil, e os Meios de Comunicação Social dos Açores e da Diáspora, ali representados. Mesas Redondas tiveram lugar em torno de dois grandes temas: Comunicação Social e Associativismo, discutidos em espaços paralelos e ao final reunidos numa grande sessão plenária.
De um lado, discutiu-se a "Comunicação Social nos Açores e nas Comunidades", e do outro, "O Associativismo nos Açores e nas Comunidades". Partindo da experiência de profissionais como José Lourenço do Diário Insular (Açores) e António Oliveira da Comunidade USA (EUA) refletiu-se sobre a sua realidade e os novos desafios da Comunicação Social, tanto no arquipélago quanto na Diáspora, passando por questões fundamentais como o poder dos Meios na informação da notícia e na formação da opinião pública, a ética na imprensa, a sobrevivência dos inúmeros veículos de comunicação que circulam nas comunidades e o seu futuro.
No que diz respeito à Comunicação Social nas comunidades da diáspora, António Oliveira fez sua reflexão com alma, com o sentir de quem traz na pele as marcas de uma luta constante e que conhece bem a realidade dos órgãos de comunicação comunitária seja na Califórnia, na Costa Leste ou mesmo lá de New Rochele,New York de onde se faz ouvir e dá espaço a outras vozes de se manifestarem nas páginas de sua "Comunidade USA", The Portuguese-American Monthly in the USA. António, em boa hora lembrou os caminhos já percorridos e trouxe à baila as palavras de Diniz Borges nos idos 1999, no I Congresso da Imprensa Comunitária, sobre os desafios das dos OCS: "É que apesar dos avanços tecnológicos perdura a necessidade para que cada comunidade tenha a sua voz. Mais do que nunca, os órgãos de informação das comunidades têm um papel fundamental na preservação da nossa identidade cultural". E continua a citá-lo: "Penso que os novos desafios dos agentes de informação nas nossas comunidades residem em como defender a complexidade da identidade portuguesa em terras americanas. A metamorfose que ocorre nas comunidades é plausível nas várias esferas das nossas vivências individuais e colectivas". E advertia para a necessidade de se usar a língua inglesa para levar a mensagem às novas gerações. Pelo visto, a quase uma década de distância, as palavras de Diniz Borges continuam valendo.
Ao final, António lembra que, no passado como no presente, cabe aos meios de comunicação social comunitários uma postura crítica e esta não é uma tarefa simples. Agir localmente sem deixar de pensar globalmente,"transmitindo confiança e esperança às comunidades", este é o desafio.
Não foi diferente, no compromisso de propor e assumir desafios, as discussões que se desenrolaram em torno do tema "Associativismo". Em todas as discussões estava presente a preocupação com as novas gerações e as suas potencilidades, os seus talentos. Também é hora de dar espaço a esta juventude que está aí e faz acontecer. Sim, é hora de deixar de lado o pensamento cheio de paranhos, atrasado, mumificado. De fechar a porta ao retrocesso e escancarar para a oxigenação de idéias. O novo associativismo não pode aceitar lamúrias como desculpas para o não fazer. Ele vai atrás, inventa, inova, cria, estabelece parâmetros, dá oportunidades, socializa conhecimentos, comunica. Assim, se posicionou Paulo Cabral ao falar sobre "A Juventude no Movimento Associativo" e António Gil, da RTP-Açores, sobre "As novas formas de Comunicação face ao Mundo Globalizado".
Assim, responderam os jovens do Brasil, da América, do Canadá e dos Açores sobre o papel dos emigrantes e seus descendentes no processo de desenvolvimento, sobre o compromisso com a construção da Identidade Cultural que passa bem juntinho de uma identidade açor-americana.
Sim, está mais do que na hora de atravessarmos a ponte para o Futuro e pensarmos os Açores e as nossas Comunidades com olhos fitos no Amanhã.
Florianópolis, Julho de 2008