Jair Hamms: um testemunho
Jair Francisco Hamms foi, durante toda sua vida, um magnífico exemplo de cidadão, chefe de família, intelectual, servidor público, jornalista, publicitário, professor e administrador. Exerceu estas múltiplas atividades com honestidade impar, ética exemplar, dedicação plena, paixão, clarividência e muita sensibilidade.
De origem humilde, era um obcecado pela leitura, hábito que cultivou desde os primeiros anos, após a alfabetização. Atravessava as madrugadas com leituras à luz de vela, circunstância que o obrigou a muito cedo a usar óculos para corrigir deficiências visuais.
Conheci Jair Francisco Hamms já como competente e criativo Diretor da Divisão de Intercâmbio e Expansão Cultural da Reitoria da Ufsc, sob o comando de Murilo Pirajá Martins, nas famosas “casas do Tarzan”, as construções de madeira situada nos fundos do prédio da antiga Reitoria na rua Bocaiuva, semente da Escola de Engenharia Industrial, obra histórica do professor e ex-reitor Caspar Stemmer, outro monumento da academia catarinense.
Jair Hamms, Murilo Pirajá, Péricles Prade, Amaral e Silva, Brás Silva, entre outros, marcaram época no primeiros anos da Universidade Federal. Formaram o núcleo da maior revolução artístico-cultural por que passou Santa Catarina na segunda metade do século passado. Eram centenas, milhares de eventos, cursos, peças de teatro, seminários, cinema, em todas as áreas e sobre todos os temas. A este seleto grupo deve-se a criação do Coral da UFSC, sob a regência de outro ícone da música catarinense, o saudoso e grande maestro e compositor José Acácio Santana.
Promovido a Chefe de Gabinete do reitor Ferreira Lima, Jair Hamms indicou-me para substituí-lo na Divisão que dirigia. Trabalhamos juntos em incontáveis eventos. Devo a ele e ao professor Ernani Bayer, que me transferiu da Faculdade de Ciências Econômicas, onde atuava como auxiliar de escritório, a convite do professor João Makowiecky, mas já voltado para atividades na área da comunicação.
Viajei com o Reitor Ferreira Lima e os mestres Jair Hamms e Ernani Bayer para várias cidades do Estado, especialmente, Blumenau , Joinville, Criciuma, Itajaí, sempre para divulgar os eventos de dimensão nacional que a Ufsc realizava no Estado. Em Blumenau, foram múltiplos os encontros com autoridades locais e com o professor Martinho Cardoso da Veiga, nos primeiros ensaios para fundação da Universidade Regional.
A expansão da Ufsc, a reforma universitária, a importação de modernos e sofisticados equipamentos da Alemanha Oriental, a implantação do “campus” universitário, a contratação do arquiteto Burle Marx para lançar as primeiras ideias de preservação ambiental e de jardinagem na Trindade, a contratação do premiado Martinho de Haro para deixar sua marca no gigantesco painel do hall de entrada da reitoria, a vinda a Santa Catarina de grandes nomes da academia, da politica, da economia e das ciências, tiveram a ativa participação, o incentivo e o apoio do professor Jair Hamms.
Por onde andava, incentiva como poucos a leitura a todas as camada sociais. Seus testemunhos sobre a importância do livro e do resgate da história da cultura catarinense constituíam sempre em sementes plantadas em solo fértil, como as instituições fundadas para dar força à proposta.
Suas qualidades pessoais, acadêmicas e intelectuais foram descobertas pelo então governador Jorge Bornhausen, que o convidou para exercer funções relevantes, com presidente da Codesc, Subchefe da Casa Civil, assessor do Badesc e secretário de Comunicação. Em todos eles, deixando uma legião de novos amigos e as marcas de sua personalidade: ética, integridade pessoal, sensibilidade humana, espírito de Justiça, amizade, fraternidade e solidariedade.
Não conheço nenhum desafeto. Nunca registrei alguém que levantasse uma vírgula sobre este paradigma de nossa cultura. Era, definitivamente, uma rara unanimidade.
Não me recordo, também, de algum diálogo ríspido com ele, certamente, outra particularidade de seu coração generoso.
Vivia exclusivamente para sua dedicada Lúcia Rupp, a esposa parceira e admirável, para os filhos, para os amigos e para a cultura catarinense.
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Nota: Originalmente publicado na Coluna de Moacir Pereira no Diário Catarinense de 11/01/2012,reproduzida com a permissão do Autor.
Sobre o Autor MOACIR PEREIRA:
O jornalista Moacir Pereira, com 48 anos de carreira e 35 livros publicados é um dos mais importantes escritores e analistas políticos do Sul do Brasil.
Formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina,com curso de Mestrado em Ciência Política. Toda sua carreira é dedicada ao Jornalismo.Colunista e comentarista de rádio, jornal e televisão, e agora também num blog no portal CLICRBS. Coordenou o curso de Jornalismo da UFSC,foi presidente da Associação Catarinense de Imprensa. Recebeu inúmeros Prêmios estaduais e nacionais de jornalismo e incontáveis homenagens por sua inestimável contribuição aos meios de comunicação social de Santa Catarina. Dezembro último,na celebração dos 180 anos da Imprensa Catarinense foi outorgado pelo Governo de Estado de Santa Catarina com a Medalha do Mérito Jerônimo Francisco Coelho.
Moacir Pereira pertence aos quadros do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e é titular da cadeira nº. 3 da Academia Catarinense de Letras.
