Passei pelo local onde caíram as torres, na quinta-feira passada. Já ninguém reconheceria o epicentro da catástrofe que se desenrolou num 11 de setembro, há nove anos, que é, de facto, “impossível esquecer”.
O ruído das máquinas de construção substituiu as sirenes angustiadas e urgentes dos veículos dos serviços de assistência daquele dia que se distância no tempo. Ao cimo e à retaguarda dos edifícios gigantes e altos que caracterizam a “grande maçã”, the big apple do vernáculo sociolinguístico dos estados médio-atlânticos, a abóbada celeste coloriu-se de um azul diáfano que se alarga no espaço até onde acaba o mundo do campo visual. A nuvem negra de detritos e fumaça acre pairando sobre Nova Iorque desapareceu.
Vi caírem as torres, da janela de de um edifício no outro lado do rio Hudson, aonde naquele dia eu me deslocara. Na passada quinta-feira senti de novo na garganta a emoção que me levou às lágrimas em 2001.
Ontem à noite, num programa da TV, ouvi alguns comentários de conhecidos membros e dirigentes do partido republicano, dando de modo subtil o aval a uma tentativa de criar nos americanos de religião maometana um bode expiatório. Pretendem ferir, através de uma rede perversa de mentiras e trapalhices criminosas, indiretamente, o presidente Barack Obama.
Felizmente, ainda que tenham obtido eco internacional, os promotores desta farsa política vestida de religiosidade fanática e falsa são uma minoria nos Estados Unidos. Por isso fico sem compreender como o o povo americano, na confusão espalhada por propagandistas reacionários e na angústia de um nível de vida em regressão devido à sua incúria e à ganância do capitalismo sem escrúpulos, e da incompetência de um governo republicano, esqueceu em tão pouco tempo as causas da atual crise económica e os verdadeiros inimigos deste país.
Tenho mais medo da ala conservadora do partido republicano, dos seus aliados cristãos fundamentalistas, que incluem os católicos inflexíveis, e dos capitalistas de mentalidade criminosa, do que dos adversários ideológicos e militares, e figadais, da entidade política e cultural que é os Estados Unidos. Os primeiros são como toupeiras que cavam a ruína sem que se lhes possamos eliminar porque a democracia garante a todos a liberdade de expressão.
Os últimos, vamo-los silenciando onde se escondem porque prosseguem a guerra absurda e facinorosa para impor ao mundo uma religião e um modo de viver que pertenceu à Idade Média. E eu até sugeria que os mísseis dos drones levando a morte aos terroristas de Al Qaida, e as balas das forças armadas americanas e dos países aliados que os ajudam deveriam ser feitas com o aço das torres destruídas.
“Impossível esquecer “, verdadeiramente.
Manuel S. M. Leal
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Imagens: Spencer Platt/In:
“Tributo de Luz” – a luz de dois enormes feixes é como um farol da memória a recordar os ataques de 11 de Setembro de N.York.
Uma foto de 2002 que ilustra bem o comovido grito de Manuel Leal.
http://especiais.ig.com.br/zoom/11-de-setembro-nove-anos-depois/
Nota: A foto de autoria de Greg Semendinger, foi disponibilizada pelo Departamento de Polícia de NY para a rede de televisão ABC e distribuída pela AP. Integra um conjunto de cerca de 2.800 fotos que a ABC News conseguiu divulgá-las sob Lei de Liberdade da Informação.http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,divulgadas-novas-fotos-do-atentado-de-11-de-setembro,509265,0.htm
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Sobre o Autor Manuel Leal.
É açoriano,nascido na Ilha do Faial. Reside nos Estados Unidos para onde emigrou e construiu sua família. Psicólogo,professor e escritor.
Com inúmeros artigos publicados é presença obrigatória em inúmeros jornais dos Estados Unidos e dos Açores onde seus artigos de opinião são divulgados.