Açorianidade – 178 [João Aranda e Silva, “Sonhos do mar”. Misty, “Fly me to the moon”].
Sonhos do Mar
ate ao finito horizonte
onde o clepsidra jaz monótono
arrastando sonhos
a cada volta das velas enfunadas
sem que o mítico nevoeiro
nos apazigúe a melancolia
com que a ilha nos envolve.
Ouço o barulhar das ondas
e da areia,
embaladas por estranhos desejos
que vogam silenciosamente
ao encontro de pássaros reluzentes
que debitam proféticas notícias
de mundos distantes.
A ilha parece cada vez mais pequena
(só cresce quando a maré baixa)
tamanho pouco para a aventura,
e nem a fragrância das chuvas
acalma os deuses oníricos
que me povoam os olhos.
Só os cavernames
me podem levar a ver
a cor dos teus lábios
o feitio das ruas
o borbulhar das vidas,
errantes umas, felizes outras,
do mundo que em mim albergo
na distância de varias luas.
João Aranda e Silva,
Palavras das Horas Mortas,
[Angra do Heroísmo], Edição do Autor, 2009.