1.Exactamente o que é este novo romance, “Arquipélago”?
É uma declaração de amor, sobretudo. Uma declaração de amor à minha ilha e às nossas ilhas. O regresso à Terceira, há dois anos e meio, mudou-me muito como homem. Como que de repente, descobri a esperança. De um momento para o outro, percebi que, muito mais interessante do que eliminar hipóteses (como um jornalista), era somá-las (como um escritor). O cepticismo foi dando lugar a um inesperado optimismo. E o que vim a concluir, com o tempo, foi que esse optimismo provinha da paisagem. “Arquipélago”, que cobre 70 anos de narrativa e se centra enfim nos Açores do século XXI, é sobre isso. Tem, principalmente para um leitor de fora, personagens pitorescas, cenários exóticos, tradições ancestrais, sotaques divertidos, seitas ocultas, movimentos políticos, descobertas arqueológicas e uma suspeita razoável de que, afinal, podem ter vivido nos Açores outros povos antes da chegada dos portugueses no exíguo mundo de Quatrocentos. Mas é, acima de tudo, sobre a redentora paisagem destas ilhas assoladas por vulcões, terramotos e tempestades, mas sempre capazes de se renovar, de resistir, de vencer o desespero.
2.Que diferenças há deste livro para as obras anteriores?
Apesar dos vários títulos que fui publicando ao longo dos anos, gosto de ver este como o meu primeiro livro. O meu primeiro livro adulto. O meu primeiro livro totalmente profissional. Porque tenho 41 anos e dobrei aquilo que normalmente se entende como a metade da vida; porque se trata de um romance com 500 páginas, aventura a que nunca dantes me tinha abalançado; porque é editado pela chancela de que, no fundo, sempre estive à espera – a Marcador, onde encontrei uma sofisticação de processos e um grau de dedicação ao trabalho de que nunca usufruíra, apesar de ter publicado nas maiores editoras portuguesas; porque é o primeiro volume de um tríptico de que os dois restantes já estão definidos; porque a campanha de comunicação em curso (marca Livros RTP incluída) dá a tudo isto uma amplitude sem precedentes no meu percurso… Por quase tudo, no fundo.
3.A mudança de Lisboa para a Terceira ajudou ou influenciou de alguma forma o romance?
A mudança para a Terceira acontece também em resultado da necessidade de escrever este romance. Seguramente, propiciou-o. É claro que, pelo meio, tive as minhas hesitações e os meus rebates de consciência. Voltar para escrever sobre o lugar para onde se voltou tem os seus perigos. Se eu procurasse retratar aquilo que encontrava, não estaria a fazer literatura, mas jornalismo. Faltar-me-ia o filtro da memória. Mas rapidamente me dei conta de que, em vez disso, o que estava a acontecer era tudo aquilo que eu presenciava ou sentia ajudar-me a recuperar memórias da minha infância e da minha adolescência. E isto mesmo que algumas dessas memórias fossem fabricadas, que não é por isso que deixam de ser memórias. Portanto, sim: o regresso foi essencial. E, aliás, isso pode ver-se neste livro como poderá ver-se nos próximos dois.
4.A província insular inspira-o mais?
Não sei bem o que seja a inspiração. As ilhas comovem-me mais, isso é certo. Quando nós escrevemos sobre aquilo que nos comove, poucas coisas podem intrometer-se entre isso que escrevemos e o coração do leitor. Os meus melhores textos foram sempre sobre a ilha. Os textos sobre Lisboa trouxeram sempre um enfado muito pouco realizador.
5.Como vai ser promovida a edição?
Há uma série de eventos e de acções de comunicação marcadas para os próximos meses. Haverá um lançamento nacional em Lisboa e depois um lançamento no Porto, outro em Angra e outro ainda em Ponta Delgada. Vou estar na Feira do Livro de Lisboa uma série de dias e já este fim-de-semana dou um salto a Matosinhos, para o Festival Literatura Em Viagem, onde participo numa mesa redonda e em várias manobras de divulgação. Há um bom número de compromissos agendados com a televisão, a rádio e os jornais e, de resto, alguns deles – a SIC, a Antena 1 e a Sábado – reuniram-se em press-trip nos últimos dias de Abril, fazendo deslocar à Terceira equipas de reportagem para virem conhecer os lugares do livro. Entretanto, só a marca Livros RTP vale centenas – 360, se não estou em erro – inserções publicitárias nos canais RTP, televisão e rádio incluídas, e a Marcador tem planeado um trabalho intenso para as redes sociais, nomeadamente Facebook, Twitter, GoodReads e blogs em geral. Isto fora ida a clubes do livro, bibliotecas e livrarias. E também ao Outono Vivo, em Novembro. Portanto, não me posso queixar: é uma campanha de uma dimensão totalmente diferente da daquelas de que beneficiei até ao momento.
A Direcção Regional de Turismo tem-se queixado da “falta de contadores de histórias para a paisagem açoriana”. Eis aqui, portanto, aquilo de que se estava à procura. Uma oportunidade de ouro também para a acção do Governo Regional.
Olhe, nem sei o que lhe diga. Podemos passar a pergunta seguinte?
7.Como assim? Contactou a Direcção Regional de Turismo?
A Marcador tratou disso. Parece que não foi possível ajudar em nada – nem sequer emprestando uma carrinha para ir buscar e levar os jornalistas e as câmaras de televisão ao aeroporto. Mas isso é o menos importante, na verdade. O que é importante é que os Açores não deixaram de aproveitar a oportunidade. Custou mais dinheiro à editora e deu infinitamente mais trabalho – à Marcador, a mim e à Booktailors, a minha agência. Mas fez-se na mesma. A Sata colaborou. A Quinta do Martelo, o Q.B. e o Boca Negra também. Até a Fábrica de Tabaco Micaelense, que não tem a ver directamente com a Terceira. Portanto, somos uns sortudos, nós, açorianos. Temos a administração pública que temos, mas temos também um grande povo e uma sociedade civil solidária e responsável. Antes assim do que ao contrário.
8.O que vem a seguir?
A seguir vem um livro de crónicas, a sair em princípio no Outono, e depois um romance em folhetim, a sair algures entre a Primavera e o Verão de 2016. O Tino Navarro encomendou-me um argumento para um filme e, entretanto, também fui convidado para fazer algumas traduções autorais. Portanto, os próximos anos, havendo saúde, estão entregues.
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Entrevista realizada pelo Jornalista Osvaldo Cabral e publicada no Diário dos Açores,edição de 9 de Maio de 2015. Ano 145°, N°40.684