QUEBRA-MAR
Adormecer-me de químicos
Despedir a agitação a inquietação
Ir e vir do tempo por findar
Ouvir um ruído que seriam ondas
Se as ondas não voltassem
Não me ensurdecem Ouço os carros
Que sujam a noite O calor
E anseio pelo Inverno Antes
O frio o frio os livros próximos
A noite berço regaço colo
Amo-te até ao pescoço noite
Que me devoras a cabeça e despejas
O sal das feridas e calas-me
E ensurdeces-me. Deixas-me
Um barco um barco e a tempestade
Doerem-me os pés de te esperar
Doerem-me os pés de te encontrar
José Álvaro Afonso,
Entre passos sobrevivem eras,
Angra do Heroísmo, ed. do autor, 2006.
José Álvaro Afonso (1964), é natural da cidade de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, onde trabalha e reside.