Açorianidade – 134 [José Berto,”Olhar em sangue” e outros poemas. Alex Rodrigues, “Maia”]
[Olhos em sangue]
Olhos em sangue
numa sombra corada,
asas esvoaçando
nuns dedos de neve,
lágrimas escaldantes
em lábios d’alabastro
despertaram um poema
dourado e quente.
Sorrisos trémulos
nuns lábios virgens,
mas suores frios que escaldam
num rosto orvalhado.
[O poema das rosas]
O poema das rosas
é todo feito de pétalas
e os jardins são os espaços
onde esvoaçam
estrelas de flores.
A relva verde que se beija
em nuvens vaporosas,
não voa, mas pousa
no negro solitário
da terra dura.
[Fiz um poema]
Fiz um poema
de carvão
que se transformou em cinza.
Cantaram crianças
como aves breves,
sorriam virgens
com lábios de pétalas
mas os homens praguejaram
no rumo incerto
dos passos desconhecidos…
[Há ritmo]
Há ritmo
nos passos
que violam
a noite.
Pára!
E ouvirás
a noite murmurar
silêncio.
José Berto,
Versos,
Angra do Heroísmo, Ed. do autor, 1965.
José Berto Magalhães Lima ( 1938-1999) professor, músico, natural da vila da Praia, ilha Graciosa, viveu e trabalhou em Angra do Heroísmo tendo vindo a falecer na vila de Santa Cruz da ilha natal.
Quadro: (“Europa” by Juanita Guccione)