PorqueHojeEhSabado
2015.11.14
[…]
Corria o outono triste e friorento;
viam-se os céus toldados
de espessos nevoeiros,
e o rijo sopro do importuno vento
do mar os vagalhões encapelava
contra os calhaus negros, fragueiros;
sinistramente uivando, violento,
das árvores os ramos desnudava.
As folhas emortecidas
volteando, rodopiando,
em céleres, crescentes remoinhos,
para longe voavam, semelhando,
— pobres folhas perdidas —
almas penadas, procurando
esmolas, preces, carinhos,
consolações mal definidas
aflitas vagueando
por tenebrosos, ásperos caminhos…
Nesse outono fatídico, outro vento
soprado pelos bofes da vingança
de um estribeiro do Parnaso
mordaz e odiento,
— pois, se Amor vela, o Ódio não descansa —
fez no mundo espalhar
desde o gelado Areturo à Cruz Polar,
desde o roxo Levante ao rubro Ocaso,
a todos os recantos do Universo
cáustica ode escrita em torpe verso,
em que era celebrado
por modo mui soez, desenfreado
insultante e brutal
de Saltitante o dia de natal.
[…]
José da Costa, Saltapíada,
Edição do autor, (Artes Gráficas), Ponta Delgada, 1949.
Costa, José da (1881-1963), Professor, poeta latinista, natural de Ponta Garça, ilha de S. Miguel, viveu e trabalhou na cidade de Ponta Delgada onde veio a falecer.