ALMA DAS COISAS
Talvez, talvez o cardo, na montanha,
sinta mágoa, como eu, assim vivida;
que o mar, em sua força desmedida,
seja outro ser que pensa, outra alma estranha.
Talvez, talvez a fonte, ao vir da noite,
experimente o alívio, a sensação
de quem penetra noutra região,
num outro Mundo, que a nossa alma acoite.
Quando assobia o vento, às rajadas,
parece-me escutar almas penadas,
espíritos cativos de outros anos!
Talvez, no outono, a folha que tombou,
lamente a cor e a vida, que deixou,
e tenha, como nós, seus desenganos!
José dos Santos Silveira,
A voz dos tempos, Barbosa e Xavier, Braga, 1988.
A voz dos tempos, Barbosa e Xavier, Braga, 1988.
José dos Santos Silveira (1914-2005) Juiz de Direito, natural da freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores, trabalhou em diversas comarcas, nomeadamente São Roque do Pico, Vila Real, Covilhã, Santarém, Lisboa (como Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça) vindo a falecer em Setúbal.