[Quando o homem fez, um dia,]
Quando o homem fez, um dia,
A água descer do monte,
Ao chafariz que corria
Ainda chamavam fonte.
Oh Maria! Vai à fonte
Dizia minha avozinha,
Antes que o sol desponte
Para a água ser fresquinha.
Era ali que os namorados
Trocavam beijos e flores
e matavam, apressados,
A sede dos seus amores.
Pois o chafariz velhinho,
Há muito parou de correr;
Sabia tanto segredinho,
Que mais ninguém há-de saber.
O chafariz da aldeia
Hoje ali abandonado,
Vem dar-nos um ideia
Do artista do passado.
José Soares,
in Duarte M., Maciel F., José Soares, o canto de um lavrador,
Angra do Heroísmo, BLU edições, 1996.