No início da semana conversei com alguns colegas do DLLV para enviarmos uma mensagem para o Prof. Lauro no Hospital Caridade. Demoramos um pouco para escolher a lembrança mais adequada ao difícil momento. Não deu tempo… Eu havia pensando em cartinhas… Escrevo a minha agora.
Não gosto de ir a cemitérios e enterros, porque sempre acreditei que o que deve ser feito, deve ser feito em vida. Mas o Mestre Lauro era um Mestre e fui me despedir dele. Fiquei impressionada, porque nunca havia presenciado um congestionamento de carros e pessoas num cemitério. Pessoas de credos e culturas as mais diversas estavam lá. Poderia se dizer que era a despedida de uma celebridade.
E era. Celebríssimo ser, que nunca se deu conta de que o era e isto o fazia mais singular ainda. Lauro era um Mestre na essência da palavra, que exercia sacralmente a arte de ensinar como um sacerdócio. Mas não um sacerdócio qualquer, nem sequer Levítico. Ele fazia da arte de ensinar um sacerdócio segundo a Ordem de Melquisedeque. E quão poucos mestres existem segundo esta ordem! Herdou dos judeus o amor ao texto escrito, dos filósofos gregos a sabedoria e dos cristãos a fé e a humildade.
Lembro-me de numa defesa ter sido muito dura em minha avaliação. Em particular ele me disse: “É preferível pecar pelo excesso de generosidade do que pelo excesso de rigor.” A partir daí sempre me posicionei diante dele como uma discípula que tem muito a aprender com seu Mestre.
Mas volto à humildade. Ele era um intelectual humilde, e esta humildade silenciosa, de certa forma, contrastava com os “cenepequísticos” e “lattísticos” phds cujo nariz empinado faria corar o próprio Pinóquio. Mestre Lauro sabia que toda la gloria es nada. Absolutamente nada!
Nunca pretendeu ser um avatar borgiano, como muitos que se arrogam a própria encarnação da Biblioteca de Babel e para os quais não há interlocução possível entre nós, pobres e limitados seres humanos.
Lembro-me que ficou chateado quando retiraram a Literatura Catarinense do currículum de Letras. Reclamou que o acusavam de puxar a brasa para sua sardinha. E eu me pergunto: que mal há em fazer isto, principalmente quando a sardinha é um cardume monstruoso de escritores olvidados? Ele ressuscitou escritores que de outra forma jamais seriam reconhecidos. A Literatura Brasileira perde neste sentido um Caius Maecenas, um Patrono das Letras Catarinense e esta perda é irreparável.
Ao levarem o seu corpo naquele carro fúnebre, seus amigos e familiares cantavam um hino que me recordou os cultos que meus avós protestantes realizavam no passado: Deixa a luz do céu entrar…!
Não sei se há céu, o que sei é que em sua passagem aqui pela terra, ele deixou a sua luz brilhar, como só os grandes cometas fazem. Uns nascem para ser somente pó de estrelas, outros, cometas!
Abençoados fomos os que convivemos com ele.!
Obrigado Lauro, por ter convivido com faíscas desta luz!
A discípula
Salma Ferraz
NUTEL
Núcleo de Estudos de Teologia e Literatura
ALALITE
Associação Latino Americana de Teologia e Literatura.
Universidade Federal de Santa Catarina
Comunidades
24 out, 2010, 05:54
Lauro Junkes: Estrela de grandeza maior. Salma Ferraz
Toda la gloria es nada
Toda vida es sagrada
Una estrellita de nada
en la periferia
de una galaxia menor.
Una, entre tantos millones
y un grano de polvo girando a su alrededor
No dejaremos huella,
sólo polvo de estrellas.
Drexler