ESSES ARES
É sempre a araçá
e a figos lampos
que sabem as lembranças
desses dias
de promessas e segredos confiados
à sombra da latada
lá na ilha.
E não sei já
se foste tu ou eu
– incerta das coisas que
procuro – quem prometeu
guardar a luz etérea
das hortênsias em cachos nos caminhos
absorver o viço puro e fresco
das frondosas criptomérias perfiladas,
calar no peito a lenta combustão
das vulcânicas ânsias da partida.
O certo é que a distância
me fez ver
mais clara a cal das fachadas
nas casas transparentes onde cheira
a mesa farta de dádiva e alegria.
Ao longe
fico mais perto desses ares
que se vão impregnando dia a dia
nesta espera do regresso apetecido
às coisas simples
e sinceras
da ilha.
Leocádia Regalo,
Tons do Sul, Viseu, Palimage, 2011.
Maria Leocádia Regalo (1950) professora, poeta, natural da freguesia de Norte Pequeno, ilha de São Jorge, reside e trabalha em Coimbra.
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