QUE SAUDADES, MÃE!
Oh! Mãe!
Que saudades sinto
Dos Natais da minha infância,
Quando cruzo as ruas desta Lisboa
Nesta quadra santa do ano
E vejo bonecos por toda a parte,
No meio duma profusão de luzes
E de luxos.
Que saudades, Mãe!
Vem-me à lembrança, aquele escuteiro
De celulóide,
Que na Árvore tinha lugar cimeiro
E me ofereceram nas festas do Espirito Santo.
Gostava dele, tanto, tanto!
E ai daquele que lhe tocasse
E lhe partisse o chapéu
Levemente inclinado,
Num jeito agarotado.
— Que é feito dele, Mãe?
Ainda existe?
Já é tão longa a distância
Dos Natais da minha infância,
Que nem sei se rio se choro,
Quando me punge a saudade
E me leva à mocidade
Na nossa ilha distante.
Ai, que saudades, Mãe!
Dos Natais da minha infância!
Leonilde Carreiro,
in Ecos Perdidos, ed. da autora, Lisboa, 1968.
Carreiro, Maria Leonilde Martins (1929), poeta, publicista, natural da cidade de Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel.