PARECE que neste mundo
Tudo perdeu o juízo;
Tem-nos dado a Primavera,
Em vez de rosas, granizo.
Bem podia andar o vento
A cantar árias nas matas,
Mas achou mais engraçado
Dar-nos cabo das batatas.
Mesmo o sol é mentiroso,
E, quem se fia em tal anjo…
Vem logo a chuvinha e diz-lhe:
Espera, que eu já te arranjo!…
Tem a lua duas caras,
Uma cheia, outra vazia…
E nós temos por desgraça,
As quatro estações num dia.
T’rita-se de frio agora,
Logo se fica a suar…
Anda tudo infelizmente
Com as pernas para o ar.
Lima Araújo,
Folhas que o vento levou,
Gráfica Regional, Ponta Delgada, 1957.