Lopes de Araújo foi homenageado com o Diploma de Reconhecimento Municipal pela Câmara do seu Concelho, Ponta Delgada. Entendo contribuir para divulgar e contextualizar esta distinção não por um dever de amizade – que seria também justo – mas de cidadania: preservar memórias e honrar um património ainda documentado. Muitos não terão a mais pálida ideia do que era viver sem internet, sem computadores … e sem televisão. Mas era assim há quarenta anos. Muitos não conseguirão imaginar o que era ter, nos primórdios da RTP Açores, apenas um canal de televisão que nos ligava ao mundo. Transmitindo imagens que vinham de Lisboa em pesadas bobines, e procurando nos telex da ANOP, a necessária atualização para dar aos açorianos o melhor de um trabalho novo, feito com paixão, sem horas e com escassos meios. Mas era assim que se trabalhava na redação do telejornal, nos serviços de apoio à informação, na videoteca. Os técnicos, por sua vez, faziam milagres. Os apresentadores davam rostos a uma equipa de aprendizes que rapidamente progrediam até merecerem o estatuto de excelentes profissionais. Lopes de Araújo foi um deles, com destacadas funções de Chefe de Redação e, anos mais tarde, de Diretor da RTP Açores. Numa primeira fase, contribuiu para dar a conhecer as ilhas umas às outras. A maioria dos açorianos não tinha poder financeiro para passear entre as ilhas e os meios de transporte não ofereciam frequência, rapidez nem conforto. Viajava-se por obrigações de trabalho, por doença, por saudade familiar. Pouco mais. A RTP Açores produziu o milagre de dar a cada uma das ilhas a noção mais abrangente de arquipélago e de Região Autónoma. Não fora a televisão e o mundo político só teria conseguido essa proeza após o advento da internet. Com a RTP Açores, a autonomia cresceu em conhecimento histórico e atualidade política, compreensão, número de adeptos, diligências, factos. E também em emoções, em afetos, em solidariedade, em coesão. Uma construção que continua ainda hoje – digam o que disserem! – com o importante papel da RTP Açores. Mas havia uma missão mais vasta a cumprir: trazer o mundo aos Açores e levar os Açores ao Mundo. Enquanto Chefe de Redação, com uma equipa competente e coadjuvado por Paulo Martinho, proporcionou essa aproximação de duas vias na transmissão de notícias. Era um fascínio ver, pela primeira vez, as imagens do que se ouvia na rádio e do que se lia nos jornais. Como Diretor, já em 1995, corajosamente, apostou na primeira transmissão direta para os Estados Unidos, via satélite, das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Afinal, parafraseando Richard Bach, “Não há longe nem distância”. Mas houve história e é saudável, oportuno, pertinente e útil recordá-la, principalmente porque os autores e atores destas maravilhas pioneiras caminham para fora da RTP em ritmo acelerado. Que alguém a conte antes que se perca… Nesse mesmo ano, Lopes de Araújo abria com Zeca Medeiros o canal açoriano à ficção: “Xailes Negros” a primeira. Mais tarde, multiplicadas as ficções, haveríamos de mostrar um pouco da nossa identidade cultural ao mundo e essa ampliação de horizontes projetava os Açores e a expressão da alma de um povo. Foram dez anos de ouro na RTP Açores os da direção de Lopes de Araújo. Muita luta, sucessos e momentos difíceis, mas caminhava-se, progredia-se, sentia-se a estrada e conhecia-se projeto e metas.
Neste enquadramento – penalizando-me pelo muito em qualidade e quantidade que fica por destacar – e na antecipação dos 40 anos da RTP Açores que ficarão completos em 10 de agosto de 2015, deixo aqui a sugestão de uma homenagem ao nível da Região Autónoma, reconhecedora da importância de uma história recente e estruturante para as ilhas açorianas.
Alzira Silva