Os olhos dos meninos acordaram para a manhã.
Era uma manhã branca como convinha a todas
as manhãs.
E os meninos traçaram no papel,
em letras pequeninas de brincar,
sonhos azuis e breves
com estrelas proas e linhas de água.
O professor era o príncipe das aventuras secretas
o cavaleiro que ganhava todas as batalhas.
E os meninos riam
e os risos eram pássaros que voavam
para o sol.
Nesse tempo as manhãs sabiam a laranjas doces.
Era a primavera da vida
e o professor habitava o coração dos meninos.
E era no coração que o professor ensinava
o nome dos animais das estrelas e das montanhas.
Também ensinava o caminho íntimo
para as ilhas.
Ilhas ignoradas, remotas,
tão longínquas que nunca ninguém
as descobriria.
E os meninos aprendiam também
a amar os livros.
Nos livros navegavam barcos
empurrados pelo sol.
Cresciam flores dentro dos textos.
Germinavam árvores de frutos deliciosos.
Existiam grutas com tesouros de piratas.
Prados verdejantes com cavalos alados
suspensos das estrelas.
E os sonhos voavam das sílabas
por sobre as cabeças dos meninos,
como pássaros do paraíso
em busca da claridade.
E o professor,
em materna gestação da vida,
começava a lição:
«Era uma vez…».
Lourdes Simões,
in Contos de A Mar,
[Velas, S. Jorge], 1999.