Mais do que Duas Palavras
No dia 1 de maio deste corrente ano de 2016, o Dia do Trabalhador, partiu o poeta Marcolino Candeias. O meu Angra Brother! Depois de uma doença de poucos, mas duros meses, o meu irmão partiu para a eternidade. Conheci a poesia do Marcolino há mais de 30 anos, conheci-o pessoalmente na década de 1990 quando, ainda a residir no Canadá, participou pela primeira vez no simpósio Filamentos da Herança Atlântica. Desde então criámos um laço de amizade bastante forte. Por vezes levávamos meses sem falar, por motivos das nossas vidas super ocupadas, mas quando o fazíamos reatávamos a conversa como se nunca tivesse sido interrompida. Aprendi muito com o meu Angra Brother. Amava a vida, a literatura, a justiça social, a liberdade. Amava, muito mesmo, a sua Deka, a Maithé e o Rodrigo, os seus amigos e a sua terra, sobretudo a sua Angra do Heroísmo. Com o Marcolino e a Deka, tive, até altas horas da madrugada, durante as minhas visitas a Angra, algumas das conversas mais interessantes, sobre as artes, a política, a justiça social, as comunidades (que ele conhecia muito bem), a liberdade, o culto da amizade e em tudo sempre a poesia. Aliás, o meu Irmão acreditava no que Gustave Flaubert um dia escreveu: não há segmento nenhum na vida que não contenha poesia.
Marcolino Candeias, o poeta, o homem dos livros, o praticante do culto da amizade, o humanista, o homem da sua terra e de todas as terras, o ativista cultural, o pensador, o intelectual, o criador das histórias mais deliciosas que jamais ouvi sobre a emigração para a Califórnia, através do personagem Joe Canoa, partiu num dos dias mais significativos para quem acredita num mundo com mais justiça para quem trabalha para viver, o primeiro de maio. Deixou um legado único na poesia, no seu trabalho com a cultura nos Açores e na personagem Joe Canoa. Na sua poesia Marcolino Candeias sempre cultivou o que Pablo Neruda escreveu algures: a poesia é um a ato de paz. A paz entra dentro da composição de um poeta tal como a farinha entra na composição do pão. O Marcolino era um sonhador e um homem que cultivava a paz.
Pessoalmente fiquei bastante mais pobre com a morte do meu Angra Brother. A cidade de Angra, a ilha Terceira e os Açores também ficaram mais pobres. Quer pelo seu trabalho na poesia, quer pela sua dedicação à cultura, o seu trabalho como diretor da biblioteca de Angra, como diretor da zona classificada da mesma cidade e o seu contributo como Diretor Regional da Cultura. Foi ainda, durante algum tempo, voluntariamente, o orientador da geminação Angra-Tulare, na cidade património mundial.
Guardarei para sempre as melhores recordações da minha amizade com Marcolino Candeias. Os seus e-mails concisos, cheios de humor e sabedoria, estarão sempre comigo. As nossas longas conversas em serões de Sanjoaninas. O copo tomado ao sabor da amizade e da cultura.
Aqui fica, nesta Maré Cheia de 15 de maio, uma curta, mas sentida homenagem ao Marcolino Candeias, que desenhou o cabeçalho que usámos durante vários anos nesta página. Ele que foi sempre leitor e apreciador da mesma. O poeta índio, Rabindranath Tagore, disse um dia: a vida de um poeta é como uma flauta na qual Deus entoa sempre melodias novas. Através da vida, o poeta Marcolino Candeias entoou sempre melodias novas, inspiradas na crença de um mundo melhor.
E porque sempre ouvi dizer que os poetas não morrem, Marcolino Candeias viverá para sempre nas letras dos Açores e nos corações daqueles, como eu, marcados para sempre pela sua amizade.
Abraços, meu Angra Brother!
diniz