QUEM ÉS TU?
Senhor,
Este mundo foi sempre assim?
Mesmo assim
Cheio de contradições
A espumar de divisões?
Quem sabe se não foi sempre assim?
Apanharam-te, certamente, distraído
E baralharam-te a obra, não foi?
Diz-nos:
Será verdade que o Teu Amor
É assim tão grande, tão grande
Que arriscaste a Tua obra na liberdade dos homens, teus filhos?
Que loucura a tua!
Então não sabias que dava nisto?
Então não sabias
– Como dizem os teólogos –
Que devias ser Aquilo que és:
Ordem. Ordem. Ordem.
Poder. Poder. Poder.
A não ser, Senhor,
Que não sejas Aquilo que é
Com ordem, poder e vigilância
Mas Aquele que é
Na aventura
Na imaginação
No Amor
Na Insegurança Criadora.
De resto
Que monotonia seria isto
De ser sempre igual
Sempre ordem
Poder.
Já compreendi.
Tu és mesmo Desordem
Revolta
Torrente
Porque és Amor!
Manuel António, Inédito (Angra, 10-VII-1975)