A amizade nasceu aqui entre as teclas do PC, no mundo virtual do correio eletrónico e das conversas no MSN. Atravessou o Mar. Fomos vizinhas de página no jornal Correio do Norte. Trocamos idéias. Concordamos muito, divergimos outro tanto e neste ir e vir passaram exatamente dois anos.
Assim, conheci Mariana Matos,a Méri, uma escrita jovem que encanta pela nuance das palavras pousadas na página branca de um jeito suave,doce, seja na prosa ou na poesia.
Quero morrer dos meus passos. Deixá-los como herança a quem os quiser comprar,não para usar,mas para fechar nas curvas imaginárias de um poema que nunca se acaba, escreveu numa nota de abertura do Suplemento Cultural que assinava no jornal Açoriano Oriental ,em abril de 2007, revelando a maturidade de sua jovem escrita.
É licenciada em Estudos Portugueses e Alemães pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Aluna do Mestrado de Cultura e Literatura Portuguesas da Universidade dos Açores. Exerceu mandato de Deputada na Assembléia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Nasceu em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, a 29 de fevereiro, num ano bissexto, o que a faz mais jovem ainda. Se tivesse nascido do lado de cá,no Brasil, carregaria o fetiche da data com suas crenças e orixás. Mas, é açoriana e traz o rumor do mar e a voz do fogo que ruge nas entranhas das ilhas. Tem um pezinho na Ilha do Pico, oriundo dos laços familiares e afetivos com a Ilha-Montanha, um elo visível na sua escrita e um lugar onde gosta de estar.
Na verdade, como todo açoriano, Mariana Matos traz a Ilha dentro de si e toda a força telúrica da insularidade transborda na sua produção literária: poemas, contos e crônicas. Como na crônica Ilhéu: pedaço de gente rodeado de ilhas por todos os lados, publicada na Revista Magma,nº8,2008, da C.M.das Lajes do Pico.
(…) Cada ilha acolhe para um ilhéu um recado ou uma sugestão, um conselho ou um alerta. Cada ilha, rodeada de mar por todos os lados, como ensinam as lições de geografia, é um bocadinho de um ilhéu e, de cada vez que o mar, que rodeia as ilhas, rebenta nos olhos de um ilhéu, é sinal de que recomeçou a contagem do tempo de vida, que lhes falta e é então que a ilha lhes fala. E fala do que ele é e do que ele foi, sem nunca se referir às causas que o levaram a não ser aquilo que, porventura, poderia ter sido. Esta é a grandeza das ilhas. E os ilhéus embrulhados em sargaço são do mar e das ilhas que os rodeiam por todos os lados.
Uma das vozes da nova geração de escritores açorianos, Mariana Matos tem publicado em jornais e revistas regionais e nacionais,figurando em diversas antologias. Coordenou desde 2005 até 2009 o Suplemento de Cultura (mensal) do tradicional jornal Açoriano Oriental. Mantém o Blog Ardemares. um espaço onde a dinamicidade da notícia e do fazer artístico e literário abraça o arquipélago e todas as geografias possíveis e inimagináveis, por onde desfilam nomes das artes e das letras do mundo globalizado.
Se, de um lado, sua prosa e poesia espelham com suavidade e sensibilidade o cotidiano, os costumes, o sentir, a vida no arquipélago açoriano, por outro, suas crônicas, com freqüência, revelam uma escrita corajosa, frontal, coerente com as posturas políticas e culturais que acredita e defende com muita garra e entusiasmo.
Talvez por isso, abra seu blog Ardemares citando Natália Correa, in Sonetos Romanticos,1990:
(…) Creio no incrível, nas coisas assombrosas, na ocupação do mundo pelas rosas, creio que o amor tem asas de ouro. Amen.
———————————————————————–
Imagem Pico: acervo blog Comunidades