(Salvador Dalí 1904-1989)
RELEMBRANDO
Às vezes, quando a gente está bem só,
Acordam num recanto da memória
Velhas datas da nossa própria história,
Como esqueletos a surdir do pó.
Muitas delas são lágrimas de dó,
Obscuras, tristes, duma pena inglória,
Mais outras são prazer, mais outras glória,
Que o tempo triturou na sua mó.
E o nosso olhar absorto, mergulhado
Na miragem distante do passado,
Vai longe na romagem comovida,
E a gente, concentrada a meditar,
Alheia e triste, queda-se a velar
O cadáver da nossa própria vida!…
Martha de Mesquita,
Pó do teu caminho,
Seara Nova, Lisboa, 1926.
Pó do teu caminho,
Seara Nova, Lisboa, 1926.
Marta Mesquita da Câmara (1895-1980), jornalista, escritora, poeta, de pais terceirenses, nasceu, residiu e trabalhou na cidade do Porto e aí faleceu.