O LEITEIRO
Mal o sol se levantou,
Já nos bate à nossa porta
O leiteiro, homem do «monte»
Que tem campos e faz horta.
Camisola alva, de linho,
Umas calças de estamenha,
Na cabeça um gorro escuro,
E assim vai para a ordenha.
Vem de longe, anda descalço,
Não dispensa o seu bordão,
Traz consigo o seu rafeiro,
O seu fiel amigo cão.
Tem fregueses sempre certos,
Com medida desigual,
Litro e meio, uma canada,
É conforme o pessoal.
Traz o leite em grandes latas,
E também numa cabaça,
E por vezes vem a vaca,
O que tem inda mais graça.
Acabada a sua venda
Pelas ruas da cidade,
O leiteiro volta lento
Ao labor da sua herdade.
Isto agora é já folclore,
Uma página da história,
Mas dá gosto recordá-la
E fixá-la na memória.
Mateus das Neves, Crepúsculo, Praia da Vitória, Edição do autor, 1982.
Mateus da Conceição Rocha das Neves (1907-1984) padre, músico, jornalista, nasceu na cidade da Praia da Vitória, ilha Terceira, trabalhou em Macau, Covilhã, Benguela, Angra do Heroísmo e na cidade natal onde faleceu.
Imagem de: http://madhukar.deviantart.com/art/Leiteiro-76820955