IV CONGRESSO INTERNACIONAL
SOBRE AS FESTIVIDADES DO ESPÍRITO SANTO
1 – Devoções & Tradições
Consciente das minhas limitações para oferecer uma reportagem, tipo foto-memória, dos aspectos culturais e ‘cultoais’ que ilustraram o programa do recente congresso realizado em Santa Clara Valley, Califórnia (Junho 24-27, 2010), resolvi vir a terreiro para oferecer uma fala sucinta sobre a autenticidade das manifestações em louvor do Espírito Santo, criadas e interpretadas por “gente da nossa gente”.
Antes de penetrar na teia de considerações mais ou menos abstractas alusivas à ancestralidade das nossas tradições e devoções, gostaria de deixar registado neste ligeiro depoimento o portentoso entusiasmo organizativo da equipa que ofereceu o seu “corpo ao manifesto” para que o IV Congresso Internacional sobre as Festas do Espírito Santo atingisse o nível de excelência amplamente testemunhado por milhares de pessoas, nas ruas e praças da cidade de San José (inclusivé, as duas centenas de participantes oriundos de vários pontos do globo, formalmente convidados para o efeito).
Não seria justo retirar ou diluir a componente religiosa do evento. Estamos a viver numa época do humanismo da inovação que mede o valor da vida pelo crescimento espiritual da humanidade. Seria aconselhável traduzir na linguagem do tempo que passa, os antigos valores receitados pela cristandade medieval: resignação, caridade, puridade; veritas liberabit vos (seremos libertados pela verdade). Como há décadas nos ensinou o inesquecível PierreTheilhard de Chardin, continuo a suspeitar da doutrina que compara o coração humano ao copo que se esvazia quando compartilha…
Como peregrino adventício nas áreas de Santa Clara, San José, San Francisco (não obstante a minha condição minoritária de açoriano oriental) tive a boa ventura de permanecer em contacto directo com a diversidade insular e de sentir o pulsar ocidental da açorianidade: Sim, alegria! Alegria socializante! No contacto com a pluralidade emotiva daquele IV Congresso Internacional, senti a Redenção mais colada à ideia de libertação do que ao veredicto do sacrifício. Sabemos que a felicidade não se deixa apanhar… mas vamos continuar a perseguir o seu imaginário perfume de astrólatra… Entretanto, ouvi alguém dar vivas à democracia do ‘pão-bento’, e falar das circunstâncias em que a ‘bandeira” da Irmandade era um símbolo mais aliciante do que a própria ‘coroa’. Enfim…
Vamos agora meditar no tripé da felicidade: tranquilidade; prazer; crescimento. Nas comunidades inspiradas na tradição do Divino, o mordomo não é o centro da irmandade, porque é o ‘primeiro’servidor’ da obra em curso. A festa é do povo! Se através do policroísmo do desfile das coroações, o bisturi do eclectismo moral detecta algum rabisco vistoso de sensualidade, a convicção é a de que não existe tentativa de beliscadura espiritual. De resto, somos informados de que a beleza é obra do Criador (… tenho procurado não cometer o pecado da indiferença perante a genialidade providencial do Supremo Escultor…).
2 – encruzilhada de afectos e de opiniões
O IV Congresso Internacional sobre as tradições e devoções em louvor do Espirito Santo foi em boa verdade uma encruzilhada de afectos e de opiniões.
Na manifesta impossibilidade de comentar a pluralidade e a profundidade dos trabalhos apresentados ao plenário (aliás a organização do congresso teve o afanoso cuidado de editar em tempo útil todos os textos das comunicacões),resta realçar a preocupação por parte da equipa organizadora em garantir a igualdade dos prerequisitos exigidos aos diferentes oradores (mesmo àqueles cuja primeira língua era o Inglês).
Os painéis do Congresso serviram de império emocional aos representantes de Canadá, Cabo Verde, Angola, e de várias áreas do Brasil (a ilha de Santa Catarina é vista como a “décima ilha” açoriana). A propósito, parece estarmos ainda a ouvir o sotaque brasileiro duma voz a lembrar que a devoção ao Divino desembarcou em Santa Catarina no coração dos pioneiros insulares… Presentes também os representantes continentais e insulares, e ainda de várias mordomias da Florida, Hawai, Nevada, Nova Inglaterra, Rhode Island e, obviamente, da Califórnia).
Falta dizer que a Igreja Católica, o Governo da República e a Administração Açoriana tiveram presença interessada e actuaram com a dignidade correspondente à dimensão étnico-cultural do evento. Um parêntesis para referir a presença muito significativa da honorable Mayor de Santa Clara, e bem assim do respectivo Comandante de polícia. Por outro lado, é justo realçar a presença infatigável da comunicação social local.
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P.S. – Conhecendo a eficácia organizativa e a autenticidade da modéstia largamente demonstradas pela valorosa equipa de trabalho liderada por Tony Goulart e José Couto Rodrigues (oriundos do Pico e S. Miguel, respectivamente), não vamos inventariar os adjectivos que obviamente merecem. Vamos apenas desejar – Haja Saúde!
Deixo aqui registada a expressão tão espontânea quão sincera proferida por uma congressista com sotaque brasileiro: “… só Deus conhece o tamanho da minha fé…”
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Rancho Mirage, Califórnia
Julho, 2010
Crédito Imagens: Lélia P.Nunes