MENINO JESUS ENTRE OS DOUTORES
Mário T Cabral, 2012
35. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CRISTIANISMO
g) POBREZA
Retomemos o curso das nossas reflexões, depois da paragem para honrarmos Nosso Senhor, de forma mais festiva, na quadra de Advento e Natal.
Nada se percebe da pobreza se não se tiver os olhos postos na promessa do Reino. O ponto é este: Jesus Cristo veio ensinar-nos, com grande objetividade, o caminho para o Outro Mundo, além da morte física. Sendo assim, como compreender que um cristão sério se atenha aos bens deste mundo?
Suponhamos uma pessoa que sabe que vai embarcar em breve e definitivamente para outra terra. Com certeza não vai comprar casa, terras, carro e outros bens onde se encontra agora.
Não tem nada contra casas, terras, carros e outros bens, mas o investimento não faz sentido; deixou de interessar. Esta situação não lhe causa ansiedade nem inveja, antes leveza e alegria.
Como se vê, a questão da pobreza evangélica não é política nem económica – é muito, muito mais concreta: é religiosa! Baseia-se na promessa duma Pessoa muito amada.
Imaginemos outro quadro: um povo peregrino a caminho duma Pátria. Esta viagem demora bastante tempo. O trajeto não tem de ser uma seca, até porque a paisagem é deslumbrante. Pode alegrar-se com as belezas deste mundo, desde que não pare de vez num ponto intermédio, esquecido da razão do seu itinerar.
Assim é possível aos ricos entrar no Reino dos Céus, se souberem evitar as dificuldades do seu estado.
Outra ponta fulcral da pobreza: Deus providencia. Faz parte da fé pôr-se nas mãos de Deus, sem resguardo nenhum. Ora, a riqueza pica a autoconfiança, que é estado de espírito inverso. Lembremos o estereótipo do avarento.
Não por acaso, S. Francisco entrançou pobreza e fraternidade universal. O louvor das criaturas significa que tudo o que é belo e bom é dado, não apropriado. A mão que desprende as coisas está estendida, vazia, pronta a receber.
Este aspeto também é claro no Evangelho: olhai os lírios do campo, eles não tecem…; e até os cabelos das vossas cabeças estão contados… etc. Claro que é das exigências mais difíceis de seguir.
Três notas finais, de raspão: uma, as famigeradas riquezas da Igreja: em último lugar são, de facto, riquezas, mas primeiro são retribuições a Quem nos dá tudo, e belezas para o Senhor do Belo – coisas do amor.
Duas: a censura de que não nos importamos com os pobres. Que aleive insuportável! Não podemos é aconselhá-los a querer ser ricos, porque não estamos em campanha eleitoral.
Três: está na hora de os pobres compreenderem que só a Igreja se preocupa com eles; o resto é ideologia.