Mensagem de Natal do
Presidente do Governo dos Açores,
Carlos César,2011
O Natal, para mim, é a grande celebração da vida. Das nossas
vidas.
Nenhum outro momento festivo, à escala global, convoca mais a
alegria e a paz.
Nenhuma outra evocação junta melhor a esperança aos que estão
tomados pela tristeza. E como na vida as tristezas não nos poupam,
é muito importante nunca nos vermos privados da esperança.
O Natal – para os cristãos, como para a maioria dos homens e das
mulheres por este mundo fora – é um tempo simultaneamente de
trégua e de acção.
De trégua, para os que se desirmanaram. De quietação para os que
se combatem. De maior serenidade para os que se agitam. De
reflexão para os que se precipitam no imprevisto.2
É também um tempo de acção. O Natal, reproduzindo o nascimento
de Jesus, reacende a luz prometedora e instiga a aptidão, que
todos conservamos no nosso interior, para renascer: a capacidade
de recomeçar ou de fazer mais, de fazer melhor, de fazer diferente
– de cumprir a promessa de Ano Novo.
Na relação com o próximo, na quadra natalícia, a fraternidade
ganha mais vezes que o egoísmo. São tantos, felizmente, os que
beneficiam deste impulso generoso e só é pena que ele não seja
mais duradouro e até constante.
Olhamos em redor e descobrimos, com outra clareza, o que falta e
o que sobra, compreendendo que fazemos parte desse todo, onde
contribuímos, em mais ou em menos, para o seu melhor como para
o seu pior.
É bom sentir que ajudamos, ou que podemos ser ajudados.
Sobretudo, é imprescindível ajudar. Não falo da caridade farisaica,
televisionada, ostentatória, dos que anunciam previamente a sua
prodigalidade para bem parecer; dos que fotografam os que
recebem, para aparecerem afinal os que dão. Falo da solidariedade
a sério: dos que dão o que podem e não dos que mostram o que
dão. Falo, pois, também, da generosidade que vence a vaidade. Em
suma, da verdadeira solidariedade do Natal. Essa é a que mais
interessa, a que é mais verdadeira e aquela a que apelo junto de
todos os açorianos.3
Nestes últimos anos, nesta mensagem de Natal, chamei muitas
vezes a atenção para as notícias das crises dos países e das
economias externas, cujos efeitos se fazem sentir agora com maior
intensidade nas nossas ilhas. Como disse recentemente, levar os
Açores para a frente, com a Europa e o País a puxarem para trás,
tem sido mais difícil. Porém, apesar de todas as dificuldades que
estamos a sentir por essas razões – nas empresas, no emprego e
no rendimento das famílias – temos conseguido, e vamos continuar
a conseguir, que a crise, que nos chegou mais tarde, seja menos
penosa do que no Continente e na Madeira está a ser e que seja
entre nós ultrapassada mais cedo.
Mesmo a situação financeira da Região, que uns gostam tanto de
desmerecer, tomara que o País e muitos outros tivessem uma
situação igual ou parecida. Estariam, todos, certamente, bem mais
aliviados.
Os Açores têm resistido melhor – isso, quase todos o reconhecem.
Mas, para mim, o mais importante é que, reagindo a essas
adversidades que se acercaram, os políticos – pela sua acção no
governo, no parlamento, nas câmaras municipais e junto dos
cidadãos – sejam capazes de, nos Açores, auxiliar os mais frágeis
com os apoios possíveis, segurar as empresas viáveis que estão
em dificuldade, proteger melhor os jovens casais, ajudar a manter
empregos, dar alternativas aos que ficaram sem modo de vida útil, e
apoiar as famílias nos tratamentos contra a doença, na educação e
alimentação dos seus filhos e no cuidado aos seus idosos. São
essas, neste momento, as minhas principais preocupações.4
Todos sabemos que estamos muito dependentes da recuperação
europeia e da recuperação portuguesa – para já não falar de outros
lugares, como nos Estados Unidos, onde temos tantos açorianos –
e todos sabemos igualmente que a retoma, nos Açores, do caminho
de progresso que estávamos a trilhar, vai obrigar-nos ainda a
sacrifícios e a mais aborrecimentos. Todos os dias chegam-nos
medidas de fora, sejam em impostos sejam em mais custos na
saúde, que exigem uma enorme ponderação na sua aplicação, às
vezes obrigatória, e um enorme esforço por parte do Governo
Regional para, ao mesmo tempo, proteger a Região e não
prejudicar mais as pessoas. Não devemos nem temos que fazer
sempre o que os outros fazem lá fora – para isso é que serve a
nossa Autonomia –, mas são decisões e tarefas muito difíceis que
temos de empreender diariamente, com responsabilidade face ao
futuro e da melhor forma no presente.
É preciso, pois, ter iniciativa e confiança: depois da tempestade virá
certamente a bonança. Todos, sejam quais forem as suas opiniões
e funções, devemos estar a remar no mesmo sentido, a dar força
aos Açores e a recuperar a tranquilidade que merecemos.
Vivemos, mesmo assim, numa terra de ilhas encantadas: não
tenhamos dúvidas! Por esse mundo fora, morre-se de fome e
abandonado na doença; tornam-se vítimas de guerras os que nem
sequer compreendem as suas causas; rebentam bombas e
eclodem catástrofes que já só no Natal têm direito a ser notícia;
multidões fogem sem destino e sem refúgio. Por isso, temos de
aprender a viver, na nossa terra, de acordo com as nossas
possibilidades e necessidades, e não pensar que se pode ter o que 5
se quer e que é o Governo que o tem de garantir. Se ambicionamos
mais para a nossa Região, se queremos que ela seja melhor, não
há dúvida de que, por esse Mundo fora, falta muita bondade, muita
nova consciência e muita vontade para que ele seja pelo menos
tolerável para os que nele vivem e mais aproximado do bem estar
que aqui temos.
Vamos dar um bom exemplo no nosso Natal! Praticar a
solidariedade e viver com responsabilidade e com esperança.
Esta é a última Mensagem de Natal que dirijo na minha qualidade
de Presidente do Governo, visto que cessarei as minhas funções
dentro de pouco menos de um ano. Continuarei, entretanto, a servir
a minha terra e os meus concidadãos, a quem devo tudo e a quem
dou o que tenho.
A todas as açorianas e açorianos, a todos os amigos dos Açores,
onde quer que residam ou onde quer que estejam, seja nas
Américas seja na Europa, e, de modo especial, aos que labutam
nas nossas ilhas das Flores, do Corvo, de São Jorge, do Pico, do
Faial, da Graciosa, da Terceira, de São Miguel e de Santa Maria,
desejo, em nome do nosso Governo e em nome da minha família,
umas boas festas e um ano novo cheio de felicidades.
Bom Natal.
Carlos César
Presidente do Governo