Outono
Ao Ilustre Poeta Ex.mo Sr. Dr. R. Galvão de Carvalho
Que triste suavidade, que doçura,
No azul do céu das noites estreladas!
Desmaiam os matizes da verdura…
Rescende o ar a frutas sazonadas…
Das preciosas parras, na frescura,
As uvas pendem, bastas e rosadas…
Cresta-se o mel, dos favos na brandura
E os favos choram lágrimas doiradas.
Em volta dos cortiços, buliçosas,
Abelhas zumbem num lidar constante.
Começam as vindimas deleitosas…
Chiam carros de bois em dissonância
Passando nas estradas… mui distante
O milho transportando em abundância.
Mercês do Canto,
Inverno,
Ed. da autora (Tip. Andrade), Angra do Heroísmo, 1940.
Açorianidade – 248 [Mercês do Canto, "Outono"_Corelli, "Concerto nº 2"]Cardoso, Maria das Mercês do Canto (1881-1956), poeta, natural da Ribeira Grande, foi sócia fundadora do Instituto Cultural de Ponta Delgada, cidade onde residiu e veio a falecer.