Vivo no meio das ondas alterosas,
Sentinela vigilante do meu Mundo.
Sob um céu de manchas vaporosas…
Tenho ao redor de mim o Mar profundo.
[…]
Deixem-me viver e sonhar
Nas minhas Ilhas de Bruma…
Deixem-me arquitectar
Nos rochedos, junto ao Mar,
Os meus Castelos de Espuma
E o meu Palácio Encantado
Feito de Amor e Tormento,
Onde leio o significado
Do meu próprio Sofrimento…
E do varandim rendilhado
Do meu Palácio Encantado
No meio da Solidão,
Por uma noite estrelada
Eu hei-de lançar ao Mar
A minha Taça Encantada,
Cálix da minha Paixão…
E o Mar há-de acolhê-la
No seu seio vagabundo…
E, cioso, há-de sorvê-la,
Levando através do Mundo
O Segredo do meu Amor…
[…]
Morão Correia,
Poema do Homem das Ilhas de Bruma,
Horta, Edição do autor, 1952.